sexta-feira, 15 de abril de 2011

Musica: Gadú, Monae, Kesha, Concha, Medulla e Morte.

Música: um tema que já deveria ter entrado aqui há bastante tempo, mas tinha ficado na prateleira até agora. Esperando o momento certo, talvez. E o momento chegou, proporcionado pela minha ida à Concha Acústica no dia 08/04/2011 assistir ao show de Maria Gadú. Já me prometi que no mínimo dois shows eu iria assistir quando estivessem em Salvador: Gadú e Lenine. Gadú é paixão recente, proporcionada pelo dvd multishow que meu primo Jairo deixou aqui em casa para eu ver. Confesso que "shimbalaies" para lá e para cá eu achava bonitinho, mas nada mais. Ao assistir ao dvd, principalmente com a participação dos Varandistas, ou seja, Leandro Léo e companhia, fiquei realmente vidrado. Músicas como "Quando fui chuva", "Lounge", "João de Barro" e "Laranja" (essa ouvi pela primeira vez no rádio de um taxi em São Paulo) não me saem mais da cabeça. Conversava com algumas pessoas que a aparição de Gadú no cenário musical brasileiro me lembrava a de Marisa Monte. Antes de Marisa aparecer, havia uma cisão entre público e crítica. Ou seja, as músicas populares eram consideradas de baixa qualidade musical pelos críticos (axé, sertanejo, etc) e vice-versa, o que os críticos achavam que tinha qualidade quase não tinha reconhecimento de público (experimentalismo, música instrumental, etc). Marisa rompeu essa divisão, pois era sucesso de público e de crítica. Gadú vai nesse mesmo sentido, pois as músicas tem forte ressonância popular, mas ao mesmo tempo são super-técnicas (do jeito que a crítica gosta). Tentar tocar "Quando fui chuva" ou "João de Barro" é um teste para a flexibilidade dos dedos!! Bom, o show foi caro (R$ 60,00), mas muito bom. Quer dizer, eles souberam fazer o suspense certo, pois o show começou muito bem, tocando os sucessos e tal, tudo ótimo. Mas uma hora depois, ela se despediu. Ai ficou um ar de desapontamento no ar, pois apesar de bom, era pouco em relação ao que se esperava. Mas ai ela voltou para o bis e jogou o show lá para cima de novo, encerrando com uma apoteótica "Eva", com o público inteiro de pé, marcando o rítmo da música nas palmas, a lá "Radio Gaga" do Queen. Muito bom!! O ponto fraco foi a ausência de "Quando fui chuva", minha música favorita do dvd. Não tocou pela falta, imagino eu, do Luís Kiari, que toca a música no dvd e não estava aqui em Salvador, diferente do Dani Black, que cantou "Só Sorriso" e do Leandro Léo, que cantou "Linda Rosa" e "João de Barro", ambos presentes no dvd também. Para aliviar a ausência, segue o link para "Quando fui chuva": http://www.youtube.com/watch?v=QJoE5GPmOvQ Já Lenine é paixão antiga. Já pude curtir show do cara aqui na Bienal de Artes da UNE (onde ouvi também - se não me engano, no mesmo dia - Chico Science e Nazão Zumbi. É claro que depois dessa "surra percussiva", meus ouvidos sairam zunindo). Curti também o dvd "Incité", gravado lá em Paris, com a participação do grande Ramiro Mussoto, um gigante que se foi. É inesquecível a mágica de fazer percussão numa bacia d'água (detalhe: a percussão era na água e não na bacia). E também da baixista cubana Yusa (que toca uma canção sozinha no violão que quebra a espinha de quem tenta acompanhar seu compasso). De qualquer modo, Lenine é sempre uma ponte fundamental entre a reflexão e a transpiração, o corpo e a alma, o movimento e a mansidão. Então, estou na fila: quando o cara estiver em Salvador, estarei na turma do gargarejo! Como exemplo dessa "raíz fincada no mangue e a cabeça, satélite na imensidão", segue o link da música que abre o dvd In Cité: http://www.youtube.com/watch?v=q1nIUp4DnG0 Para finalizar, queria falar de três músicas, talvez nem tanto por elas, mas porque a sua ocorrência agora me fez lembrar um pensamento que sempre tive desde cedo: a limitação do instante de vida diante da espiral infinita da cultura. Isso é só para dizer uma coisa que me afligia muito no passado (hoje aflige menos, mas ainda penso nisso): o fato de quão fundamental é a arte na nossa vida, porém o quão igualmente desimportante é a nossa vida para a arte. Ou seja, as vezes você se depara com um filme, um livro, um quadro ou uma música que marca tanto a sua vida que ela se torna parte de você. E quando você pensava que nenhuma outra peça artística teria aquele mesmo impacto, acontece de novo. E de novo. Ou seja, o impacto da arte na nossa vida é constante. Por outro lado, eu pensava: "E quando eu morrer, outros filmes tão bons quanto esses, e outras músicas, e livros e quadros surgirão e eu já não estarei mais aqui para ser atingido pela força estética dessas obras." Esse tipo de pensamento mostra bem uma certa insignificância nossa diante da cultura como um todo. Nesse sentido, três músicas me atingiram nesse sentido recentemente. Ou seja, de agora em diante, elas sempre estarão gravadas em mim. Como eu disse, a referência a essas músicas é muito mais para demostrar essa oposição entre finitiude da vida e infinitude da arte do que pela qualidade intrínseca delas, pois certamente daqui há algum tempo outras as substituírão em termos de "the newest new thing", ou seja, a mais nova novidade. Primeiro, Kesha. Bandida total, baladeira e badogueira (como diríamos aqui em Salvador), aparece quase sempre nos vídeos caindo aos pedaços depois de alguma zona (haja vista seu maior sucesso "Tik Tok"). Porém, eu gosto de algumas coisas, principalmente da voz, da imagem (beirando o non sense, como em "We R who we R") e do estilo de teclado, algo entre o minimalismo e uns compassos estranhos (4x3), que dão uma quebrada interessante na música, principalmente quando se fala em dance music, que sempre corre o risco de virar um bate-estaca sem identidade. Isso pode ser visto também em "Just Dance", de Lady Gaga (que claro que merecia um post só dela aqui), "Everytime we touch", de David Guetta (idem) e "Move for me", de Kaskade & Deadmaus (não chega a merecer um post não). Assim, curti muito essa "We R who we R", que segue no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=mXvmSaE0JXA Outra música que grudou nas minhas meninges foi "Eterno Retorno" do Medulla. O Medulla são os irmãos Queops e Raoni e banda. Os caras são muito bons nessa de fazer música num formato bem diferente, flertando com o pop, mas com um gosto de alguma coisa muito estranha no fim da primeira mordida. Guitarras e bateria em descompasso, frases intencionalmente incompleta. Não é exatamente música para cantar no churrasco ou na rodinha de violão na ilha. Mas é música entendida como um produto estético completo, ou seja, letras extremamente engenhosas, inteligentes e poéticas, com uma linguagem visual própria, como se pode ver em videos como "Munição na Mamadeira", "O Novo" e esse "O Eterno Retorno", que segue no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=3tfYkeGWOgs E para finalizar, o que dizer de Janelle Monae. Somente que não mais imagino minha vida sem ela. Zapeando pela tv, passo pela MTV (que ainda é capaz de revelar algumas coisas) e vejo Janelle Monae dançando à la James Brown, no ritmo alucinante de "Tightrope". Fisgado que estava, fui atrás da enciclopédia dos novos tempos: o youtube (cada geração tem a enciclopédia que merece: os iluministas tinham Diderot, nos temos o Google). E lá encontro "Cold War". Música e videos maravilhosos. A música tem toda a raiva, melancolia, contradições e desabafos que poderia haver numa música que desce fundo em relacionamentos mal resolvidos. Já o video é uma homenagem óbvia a Sinead O'Connor em "Nothing Compares to You": o mesmo enquadramento fixo no rosto, as mesmas lágrimas claramente verdadeiras. O mesmo estilo já tinha sido usado por Alanis Morissette (sem lagrimas) em "Head over feet" e Jamiroquai (em tons de cinza) em "Half the man". Mas o impacto de "Cold War" é arrasador, conforme se pode ver no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=lqmORiHNtN4 Já me despedindo, não poderia, num post falando em música, não dar alguma esperança ao colega Elisieu de que ainda existe algumas coisas iguamente novas e boas rolando por ai para quem está disposto a procurar. Vai pelo menos duas indicações (ficando no campo do rock em suas múltiplas facetas): "I know what i am" - The Band of Skulls - powertrio barulhento (como só os bons powertrios conseguem - Nirvana e Cream que o digam), que às vezes parece puxar - pelo menos nessa música - quase para um "dirty country", se é que isso existe. Se fosse para resumir diria: uma colisão entre Public Enemy, Kings of Leon e uma colherinha de psicoldelia à la Jefferson Airplane. Segue link: http://www.youtube.com/watch?v=fKL2prSqDQI "Lights" - Interpol - Beeemmm estranho. Trombei com esse video no pior horário possível: duas da manhã. Já conhecia o Interpol de "There's no I in threesome" (que já vale ouvir só pelo título) e resolvi ver o video. O começo é uma mistura de curiosidade e medo do que vai acontecer. E diferentemente de 99% das expectativas desse tipo, o final do clipe não frustra, mas, pelo contrário, choca ainda mais do que qualquer coisa que você poderia esperar (a não ser que você tenha uma imaginação ainda mais fértil que a minha). A músíca, longe de ser um detalhe, é a trilha sonora perfeita para essa viagem ao lado mais encondido da nossa mente. A voz do Paul Banks emoldurada por um riff de guitarra magistral dá o tom ideal para a mente doentia do diretor Charlie White trabalhar. Vale a pena tanto pelas imagens quanto pelo som. Mas sugiro assitir as três da tarde ou as dez da manhã, por via das dúvidas. Segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=7_CalTEVCOs