segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estudos Urbanos - Livros - Resumo - "O Que é a Cidade". Raquel Rolnik

Para voltar a movimentar o blog, vou postar alguns resumos que farei dos livros que li. Separei todos os livros que li e fiz anotações dentre os que tenho. Foram uns 160 livros, divididos em quatro grupos: "Estudos Urbanos" (cerca de 20 livros); "Estudos Econômicos" (cerca de 40); "Estudos Políticos" (cerca de 40); e "Estudos Filosóficos" (cerca de 60). Alguns ainda poderão entrar como "Estudos Literários", com resumo dos livros de literatura que já li - como Veríssimo e Ludlum - ou que estou lendo no "Imersão Cultural 2013" - como Maugham e Gogol. Pretendo publicar aqui os resumos de "Estudos Urbanos" e "Estudos Filosóficos" (e o "Estudos Literários", se rolar) e no meu outro blog, neoestrategiasbrasil, os resumos dos demais. Como sempre, essa é uma ideia muito boa na teoria, mas na prática é que são elas. Mas, como sempre, a questão é ser algo prazeiroso e não obrigatório, como disse lá no já longínquo primeiro post. O primeiro é o simplérrimo "O Que é a Cidade", de Raquel Rolnik (os trechos em itálico são meus comentários, que tentei reduzir ao mínimo):

ROLNIK, Raquel. O Que é Cidade. 3ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Principais passagens:

P. 08 – A Cidade é uma obra coletiva.

P. 08 - A Cidade nasce da sedentarização.

P. 08 - A cidade modifica a relação homem-natureza.

P. 08 - A cidade nasce da vida social, assim como a política. A existência urbana é uma existência política.

P. 09 – Cidade antiga – murada/fechada/fixa; cidade atual – aberta/fluída/fluxos.

P. 12 – Nunca se está diante da cidade, mas sim fora ou dentro dela (limites nublados).

P. 12 - O espaço urbano está além do conjunto físico. A sociedade como um todo é urbana.

P. 13 – A Cidade é um Imã (dimensão social do fenômeno urbano).

P. 13 - A demarcação da terra pela plantação é consolidada pela demarcação do céu pelo templo, formando as primeiras.

P. 14 – A cidade dos deuses e dos mortos antecede a cidade dos vivos (religiosidade na fundação das primeiras cidades).

P. 16 – A Cidade como Escrita (dimensão cultural do fenômeno urbano). Tanto a cidade quanto a escrita nascem da necessidade da gestão coletiva.

P. 16 - A Cidades nasce do excedente do campo, que permite a especialização funcional entre campo (agricultores) e cidade (outras funções).

P. 21 – A Cidade como Território (dimensão política do fenômeno urbano).

P. 21 – A origem da cidade está no binômio diferenciação social / centralização do poder.

P. 22 – A “Polis” não significava para os gregos um lugar físico, mas sim uma prática política. Da mesma forma, a “civitas” para os romanos.

P. 23 – O centro sempre teve importância na história das cidades, até o momento atual, marcado por cidades acêntricas ou policêntricas. No entanto, o paradoxo está no aumento da centralização do controle, mesmo na ausência de uma centralidade física, graças às novas tecnologias de comunicação e informação.

P. 24 – A dimensão política da cidade não está apenas na existência de uma ordem imposta pelo grupo hegemônico, mas também nas ameaças a esta ordem imposta, representada pelos protestos dos grupos insurgentes que acontecem nos espaços públicos (hegemonia e insurgência são duas faces inerentes ao fenômeno urbano, o que só reforça a sua dimensão política).

P. 26 – A especialização entre campo e cidade leva a especialização dentro da cidade que, por sua vez, é reforçada com a especialização entre as cidades e suas trocas.

P. 27 – Para que haja comércio entre as cidades, estas devem estar sob uma mesma autoridade, a exemplo do que foi o Império Romano.

P. 28 – Enquanto na Ágora grega era proibida a presença de mercadores, o Fórum romano superponha aas funções de ágora, acrópole e mercado.

P. 28 – Ainda assim, as cidades gregas e romanas tinham na dimensão política a sua marca característica. Hoje essa marca pertence à dimensão econômica.

P. 33 – A retomada da vida urbana nos burgos da Idade Média contribuiu para o fim do período medieval. O crescimento do comércio entre os burgos criava ocupações que atraiam os servos feudais. Esses abandonavam os feudos em busca do trabalho livre nos burgos. Dai o ditado: “O ar da cidade liberta.”

P. 36 – Gênova destacava-se entre essas cidades-mercado, tornando-se, no século XVI, o centro de uma ampla rede de comércio mundial.

P. 37 – A resposta à fragmentação do poder político feudal com a ascensão das cidades-mercados foi a criação das cidades-estados (recriação, se pensarmos nas cidades-estados gregas). As primeiras surgiram na região da Itália (Gênova, Florença, Veneza) e Espanha (Barcelona). São todas monarquias absolutistas.

P. 39 – As principais transformações que ocorriam na passagem da vila medieval para se tornar cidade-capital de um estado eram: 1) mercantilização da terra urbana; 2) divisão da sociedade em classes; 3) instauração de um poder despótico, que interfere na vida dos cidadãos.

P. 42 – As cidades modernas são caracterizadas pela segregação espacial. Essa segregação não era tão característica nos burgos medievais, pois havia significativa autonomia das famílias, sendo a habitação a oficina, a loja e o dormitório.

P. 47 – A segregação espacial amplia-se com a formação do estado moderno, que vai diferenciar bem o lugar de quem exerce o poder das áreas que abrigam quem serve ao poder.

P. 48 – Isso se intensifica ainda mais com a criação do trabalho assalariado, que extingue qualquer vínculo de responsabilidade que existia entre dono e escravo ou entre senhor feudal e servo.

P. 49 – A segregação espacial dos espaços externos da cidade também passa a se expressar nos espaços internos da moradia. A “rua” passa a ser vista como um lugar de descontrole, da heterogeneidade, de risco, enquanto a “casa” passa a ser o espaço de controle, da homogeneidade e da segurança. A “sala de visita” passa a ser a interface entre a “rua” e a “casa”.

P. 55 – A intervenção do Estado na cidade tem como símbolo o “plano urbanístico” e a prática do planejamento urbano, que tende a ver a cidade como um “mecanismo” que pode ser consertado.

P. 56 – No mundo medieval, não havia o planejamento urbano, porque até então a cidade era construída com base no conhecimento tácito dos mestres-construtores. Isso começa a mudar no Século XVII, com o avanço do conhecimento racional.

Obs: Por um lado, o que quiser dos planejadores urbanos etruscos (Vitruvius), gregos (Thales de Mileto) ou mesmo renascentistas (Alberti)?

P. 58 – A racionalidade que passa a influenciar o planejamento urbano é a racionalidade econômica do capitalismo industrial nascente.

P. 58 – A cidade utópica (More, Campanela), mesmo não saindo do papel, serviu para orientar o programa de intervenção de intervenção do Estado na cidade com alguns pressupostos: 1) leitura mecânica da cidade; 2) ordenação matemática; 3) a cidade planejada é a cidade sem males; 4) o Estado pode controlar a cidade.

P. 59 – exemplo prático desse pensamento foram as cidades espanholas no novo mundo, que já vinham desenhadas da Espanha e de Portugal.

P. 60 – O traço marcante desse primeiro planejamento urbano é a rua reta, seguida da visibilidade do Poder, dado pela monumentalidade do palácio ou pelo eixo monumental que levava até ele.

P. 62 – Novamente se estabelece a vinculação entre o Poder Estatal sobre a cidade e o Poder Patriarcal sobre a família. Da mesma forma que se criam os palácios no centro da cidade, se criam as prisões e os hospícios nos arredores dela, para que tanto o Estado quanto as famílias possam descartar os indivíduos indesejáveis e manter a ordem, pública e privada.

P. 62 – Vinculação entre a intervenção do Estado sobre a cidade, valorizando-a ou desvalorizando-a, e o interesse do mercado.

P. 64 – A própria intervenção pública gera espaços de especulação imobiliária (terrenos de engorda).

P. 67 – A intervenção urbana também reafirma a segregação urbana no momento em que estigmatiza os chamados bairros subnormais ou favelas, que devem ser erradicadas “para o bem da cidade.”

P. 73 – A chegada da indústria na cidade teve o impacto de uma revolução que alterou a natureza da aglomeração urbana.

P. 73 – A industrialização da produção preparou a formação de grandes cidades, com populações até então nunca vista nas cidades.

Obs: Isso se aplica a cidades europeias. Existam cidades pré-colombianas com grandes populações, porém eram diferentes das cidades europeias.

P. 73 – A industrialização também contribui para a urbanização do planeta, fazendo com que qualquer parte deste, mesmo fora das cidades, sofre os efeitos do que acontece dentro das cidades.

Obs: O que chamei de mundo urbanocêntrico.

P. 79 – A industrialização também traz para a cidade uma diversidade até então inexistente. Assim, a fragmentação entre as classes sociais que já existia na cidade moderna, intensifica-se ainda mais na cidade industrial, não mais entre diferentes classes, mas dentro das mesmas classes, porém entre as diferentes etnias e culturas que as integram. Agrega-se a isso a exploração do homem pelo capital e tem-se o cenário perfeito para a violência urbana.

P. 84 – As transformações econômicas (o mundo pós-industrial) e a tecnologia (a conexão de todos – uma omniconexão?) permite falar em uma reconfiguração de vida urbana no futuro. Se esse futuro será uma única cidade mundial, de um mundo sem cidades ou de um mundo com cidades diferentes de tudo que elas já foram, só o tempo dirá.



INDICAÇÕES DE LEITURAS:

“A Cidade na História.” – L. Mumford (Bíblia);

“História da Cidade” – L. Benévolo (Consultas Específicas);

“Economia Política da Urbanização” – P. Singer (Tenho e preciso ler);

“Espaço e Sociedade” – M. Santos (Tudo de Milton é fundamental);

“A Espoliação Urbana” – L. Kowarick (Lido, importante, mas foco excessivamente subjetivo. Farei o resumo para colocar aqui);

“Londres e Paris no Século XIX” – Maria Stella Bresciani (A autora tem um toque bem culturalista pelo que já li dela. Acho que valeria a pena ler);

“O Fenômeno Urbano” – G. Velho (Lido, fundamental para entender a sociologia urbana, de Weber à Escola de Chicado. Estará aqui); .

“O Direito à Cidade.” – H. Lefebvre (Fundamental. Falha imperdoável até hoje não ter lido nada de Lefebvre além de textos na faculdade. Preciso corrigir isso);

“O Declínio do Homem Público” – R. Sennett (Fundamental. Li “A Corrosão do Caráter” – cujo resumo estará aqui, só que nos “Estudos Econômicos” - e tenho e preciso ler “Carne e Pedra”. Esse é um dos que preciso ter, mesmo que seja – arghhh!! – novo);

“Guerra Pura” – P. Virilio (Fundamental. Um dos grandes pensadores contemporâneos, porém pouco reconhecido ainda.);

“Na Estrada” – J. Kerouac (Não sei se seria o melhor para entender a vida urbana. Mas não saberia indicar um livro de literatura – além do óbvio “Cidades Invisíveis”, de Calvino – se entender as cidades. Talvez livros de viagem, como “Nos Confins da Terra”, de Robert D. Kaplan, ou “O Caminho para Istambul”, de Jorge Wilheim. De qualquer forma, sou um admirador dos Beatniks – Bukowsky, Ginsberg – e leria qualquer coisa deles);

“Cidades Invisíveis” – I. Calvino (Fundamental. Sempre citado por todos e ainda não lido por mim. Preciso corrigir isso, nem que seja com um - arghh!! – novo).