domingo, 21 de setembro de 2014

Curso "O Cinema de Ingmar Bergman", por Sérgio Rizzo.

RESUMO DO CURSO “O CINEMA DE INGMAR BERGMAN”, DADO POR SERGIO RIZZO NO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL.

PRIMEIRA AULA (20/06/2012):
Bergman entendia que os filmes eram como as pessoas: gostamos de alguns, não gostamos de outros, e somos indiferentes ao demais. (Fagner: Essa parece ser uma afirmação bastante despretensiosa para quem fez os filmes que Bergman fez, muitos deles manifestos cinematográficos sobre temas existenciais. Porém, é uma afirmação bastante verdadeira, particularmente no meu caso, que gostei, não gostei e me sinto indiferente, a depender do filme de Bergman em questão).
Os grandes temas no cinema de Bergman (Fagner: principal lição dessa primeira aula):
Amor e Casamento Para Bergman, o relacionamento à dois é um inferno. Porém, é um mal necessário, uma vez que a solidão é pior.
No cinema de Bergman, a mulher tende a ser apresentada como o personagem mais forte da relação, diante de homens visivelmente mais frágeis. (Fagner: Essa é uma característica explícita em Bergman, tanto que já aparece nos meus primeiros comentários sobre os primeiros filmes de Bergman que assisti).
Os homens são apresentados como egoístas e angustiados.       
2.       As Instituições
São vistas sob a perspectiva do “Vigiar e Punir”, de Michel Foucault.
As instituições representam a ordem burguesa, criticada por Bergman.
(Fagner: Parece com a visão do casamento. Seria que isso permite inscrever, no cinema de Bergman, a ideia subjacente de que a vida é uma sucessão de resignações? Relacionamento ruim, mas necessário; ordem burguesa ruim, mas necessária, etc).
O Mundo da Arte X O Mundo da Religião
3.A arte – elogio à criatividade como fator de sanidade mental.
4. A religião: é vista de forma ácida, que faz promessas que não pode cumprir.
O Silêncio de Deus
Deu origem à chamada “Trilogia do Silêncio”, formado por “Através do Espelho” (1961); “Luz de Inverno” (1961); “O Silêncio” (1962). 
Por conta da exploração dessa temática, o cinema de Bergman despertou interesse em pensadores religiosos.
A exploração desse tema em Bergman gerou o livro “O Silêncio de Deus.”
Quanto a essa questão, existem dois grupos de opinião:
Bergman sustenta que Deus não existe;
Bergman sustenta que Deus existe, porém não fala.
5. O mistério da Morte
·         Bergman coloca que o suicídio é uma forma de esclarecer esse mistério. 
6.       A verdade interior
·         Neste ponto, Bergman trata da construção da identidade.
7.       Sexualidade como motor da vida. (concepção defendida por Freud).
->·         Cinema e teatro tem uma carga erótica intensa.
8.       A busca de um sentido em uma sociedade materialista.
9.       Um cineasta diante do espelho.
·         Elemento estético vasta e recorrentemente usado por Bergman. (Fagner: Também outra questão bem explícita, que já aparece nos meus primeiros comentários.)
·         Produção autobiográfica, ou seja, os filmes de Bergman colocam as angústias do próprio cineasta diante do espelho e diante do público na grande tela.
·         Segundo Rizzo, trata-se de uma “monologo de muitas vozes” (um só criador fala através de vários personagens.)
Sobre a evolução do cinema de Bergman, Rizzo não a vê como linear, indo de um Bergman imaturo, que trata de certos temas, para um Bergman maduro que trata de temas totalmente diferentes. Para ele, trata-se muito mais de uma evolução em espiral, onde Bergman trata sempre de um mesmo conjunto de temas, porém, ao voltar a eles anos depois, o faz a partir de uma outra perspectiva, mais aprofundada, mais evoluída.
Rizzo sugere pelo menos três livros para entender o cinema de Bergman: os dois livros de sua própria autoria: “Lanterna Magica” e “Imagens” e ainda o livro composto por uma entrevista de Bergman, chamado “O Cinema Segundo Bergman”.
A seguir, Rizzo traça uma evolução do cinema mundial até Bergman, de modo a fazer ver que Bergman parte de um lugar, tem influências e encontra um cinema que já tem suas regras, métodos e cânones, que ele pode escolher seguir ou subverter.
É fundamental entender que quando Bergman chega ao cinema, ele já tem uma carreira estabelecida no teatro sueco. E ele conduziu as duas carreiras em paralelo, sendo que ele produziu três vezes mais peças do que filmes. Essa relação dupla é descrita por Bergman da seguinte: “O Teatro é minha companheira e o cinema é minha amante cara.”
Bergman no Teatro:
·         Bergman começa sua vida artística fazendo teatro amador na Suécia.
·         Em 1944, é nomeado diretor do Teatro Público de Heisenberg. Torna-se o mais jovem diretor de teatro da Suécia, então com 26 anos.
·         Entre 1946 e 1949, torna-se diretor do teatro de Goteborg.
·         Entre 1952 e 1958 – Torna-se diretor do teatro de Malmo – é aqui que ele conhece e incorpora vários atores do seu “elenco bergmaniano”.
·         Entre 1963 a 1966 – Diretor do Teatro de Estocolmo – é o seu auge como diretor de teatro.
No verão de 1942, escreveu 12 peças. Várias geraram filmes ou partes de filmes de Bergman.
A obra do Bergman cineasta circula e dialoga com o Bergman encenador e dramaturgo, em especial com autores encenados por ele, como Ibsen e Strinberg.
A seguir, Rizzo traça a evolução do cinema até Bergman:
Primeira Geração – Pioneiros da Tecnologia (1847 – 1868):
  • ·         Thomas Edison;
  • ·         Irmãos Lumierè;
  • ·         Georges Méliès;
  • ·         Pascoal e Afonso Segreto (trouxeram o cinema para o Brasil)
Segunda Geração – Pioneiros da Realização Cinematográfica:
  • ·         David W. Griffith
  • ·     Victor Sjostrom (Descobriu Bergman e fez o papel principal no clássico de Bergman “Morangos Silvestres”)
  • ·         Mauritz Stiller
Terceira Geração – Geração de Ouro (fazem a transição entre o cinema mudo e o cinema sonoro):
  • ·         Carl Driyer
  • ·         Fritz Lang
  • ·         John Ford
  • ·         Alberto Cavalcanti (produtor e cineasta brasileiro, criador dos Estúdios Vera Cruz)
  • ·         Serguei Eisenstein
  • ·         Alfred Hitchcock
Quarta Geração:
  • ·         Robert Bresson
  • ·         Alfred Sjorberg
  • ·         Roberto Rosselini
  • ·         Billy Wilder
  • ·         Luis Bunuel
Quinta Geração:
  • ·         Akira Kurosawa
  • ·         Michelangelo Antonioni
  • ·         Orson Welles
  • ·         Frederico Felinni
  • ·         Ingmar Bergman
Sexta Geração:
  • ·         Nelson Pereira dos Santos
  • ·         Glauber Rocha
  • ·         Walter Hugo Khoury
  • ·         John Cassavetes
  • ·         Woody Allen
  • ·         Jean Luc-Godard
  • ·         François Truffaut
  • ·         Roman Polanski
Além dessa evolução mundial, Rizzo traça também uma evolução do próprio Bergman na produção de cinema na Suécia.
Rizzo lembra que, com exceção de Gunnar Fischer, que foi diretor de fotografia de Bergman, todos com que ele trabalhava eram mais jovens que ele.
A primeira aparição de Bergman em um filme foi como assistente de direção e roteirista do filme “Tormenta”, de 1944, de Alfred Sjorberg.
Rizzo lembra que Bergman já aparece em um contexto de produção cinematográfica industrial na Suécia. Bergman não foi um artista à margem da indústria, mas sim um cineasta de uma indústria que lhe permitia fazer os seus filmes de modo autoral.
Bergman não é uma unanimidade na Suécia, assim como a maioria dos artistas em seus respectivos países (a exemplo de Kurosawa, no Japão).
Bergman sofre uma influência grande do cinema francês dos anos 1920 (realismo poético francês).
Influências diretas de Bergman:
  • ·         Jean Renoir (“A Grande Ilusão”, “A Regra do Jogo”, etc);
  • ·         Marcel Carné (“Cais das Sombras”, “Os Visitantes da Noite”);
  • ·         Julien Duvivier (“Um Carnê de Baile”).
Influência do cinema alemão:
  • ·         Josef von Sternberg (“O Anjo Azul”)
Influência do cinema italiano:
  • ·         Escola Neo-realismo (“Ladrões de Bicicleta”, de Vittorio De Sicca)
Influência do cinema norte-americano:
  • ·         “E O Vento Levou”
  • ·         “No Tempo das Diligências”
  • ·         “Vinhas da Ira”
  • ·         “Cidadão Kane”
  • ·         “Casablanca”.

SEGUNDA AULA (21/06/2012)
O primeiro filme que Bergman considera realmente seu é “Prisão” (1949). Trata-se do primeiro filme onde o argumento era do próprio Bergman. Foi o sexto filme dirigido por Bergman.
A forma característica dos créditos (ditos em off ao longo de um plano sequência) chama atenção do crítico Sérgio Rizzo (e minha também, como registrei no facebook). Rizzo lembra que outro filme que usa esse recurso é Fahrenheit 451, de François Truffaut, produzido em 1966.
Essa forma pouco usual já demonstra a liberdade e a negação das regras institucionais do cinema.
Nono filme de Bergman, “Juventude” (1951). Segundo Rizzo, aqui o estilo de Bergman já está bem definido.
Os primeiros filmes de Bergman chamaram atenção também pela ousadia com que o sexo e a libertinagem eram tratado, principalmente nos anos 1950.
Décimo terceiro filme de Bergman, “Noites de Circo” (1953). A importância desse filme para a trajetória de Bergman é que se trata do primeiro filme onde o diretor de fotografia é Sven Nikvist. Com Nikvist, Bergman começa a ter uma linguagem visual própria, afastando-se mais do expressionismo, estilo que influenciava o cinema europeu. Uma mudança importante trazida por Nikvist para o cinema de Bergman é a mudança de iluminação para cada filme, ao invés de manter uma única forma de iluminação para todos os filmes.
Em Nikvist, Bergman encontra alguém em quem pode confiar, podendo se dedicar exclusivamente à direção, coisa que não fazia antes.
Rizzo lembra que Woody Allen, reconhecendo a influência de Bergman, busca Nikvist para trabalhar em alguns de seus filmes. E também no cinema de Woody Allen Nikvist deixou a sua marca.
Para Rizzo, “Noites de Circo” é o primeiro grande filme de Bergman, onde o talento de Bergman torna-se incontestável.
“Noites de Circo” aponta, de forma mais clara, para a arte no cinema de Bergman.
“O Rosto” (1958) também aborda um artista, porém de forma pejorativa (o artista como iludidor).
Outros filmes de Bergman que claramente abordam a arte e, mais que isso, a sua insignificância no mundo moderno, são “A Hora do Lobo” (1968), “Vergonha” (1968) e “Paixão de Ana” (1969).
Bergman: “Religião e Arte existem por razões sentimentais, como uma cortesia convencional ao passado.”
“O Rito” (1969) também poderia ser enquadrado nesses filmes sobre arte. Tratava-se de um filme para TV.
Vê-se, a partir desses quatro filmes de Bergman, como o diretor tem uma visão crítica e amarga sobre a arte.
Para concluir a aula do dia, Rizzo afirma que a obra de Bergman não é sobre certezas, nem oferece respostas. É essencialmente uma obra sobre dúvidas e perguntas.

TERCEIRA AULA (22/06/2012)
Filmes de Bergman mais comentados:
  • ·         “Noites de Circo”;
  • ·         “Mônica e o Desejo”;
  • ·         “Morangos Silvestres”;
  • ·         “O Sétimo Selo”;
  • ·         “A Fonte da Donzela”;
  • ·         “Persona”;
  • ·         “Gritos e Sussurros”;
  • ·         “Cenas de Um Casamento”;
  • ·         “Fanny e Alexander”.
Os favoritos de Rizzo:
“Face a Face” (37º. Filme de Bergman). Primeiro filme de Bergman que Rizzo assistiu. Também foi um filme feito para TV. Foram 4 episódios de 50 minutos.
“A Fonte da Donzela” é um filme que marca muito o estilo de Bergman, que já aparece aqui consolidado.
A Famosa Trilogia do Silêncio: “Através do Espelho” (1961), “Luz de Inverno” (1962) e “Silêncio” (1963). É chamada de “Trilogia do Silêncio” porque abordam o silencio de Deus diante do mal no mundo.
Esses filmes tratam do processo que vai da certeza adquirida à certeza revelada para, enfim, deparar-se com o silêncio de Deus.
Destes três filmes, o preferido de Rizzo é “Luz de Inverno”, que é o mais minimalista dos três.
Diferente do Bergman das questões metafisicas, em “Luz de Inverno” e “O Silêncio”, existem questões contemporâneas, como a Guerra Fria. Esses dois são filmes que tratam de questões políticas.  
Esses filmes também se destacam pelo uso de close-ups, muitas vezes olhando em direção do espectador. Para Rizzzo, esse olhar para o espectador é um recurso do teatro no cinema. Isso explica também a facilidade da passagem de Bergman do cinema para a TV.
“Persona” (27º. Filme de Bergman) (1966). Caracteriza-se pelo experimentalismo. Trata-se da radicalização de um espírito de experimentação em Bergman. Para muitos, é o filme mais rico de Bergman, onde o conteúdo e a forma completam-se. A forma é o conteúdo e vice-versa.
Bergman: “O filme deve se aproximar ao máximo do sonho.”
“Gritos e Sussurros” (1973). Para Rizzo, é o filme mais rico em termos de metáforas e símbolos. Concorre ao oscar de melhor filme, algo raríssimo para um filme não falado em inglês.
A imagem inicial que inspirou Bergman para o filme foi a imagem de quatro mulheres em quatro quartos de cores diferentes.
“Gritos e Sussurros” seria o filme mais rico em termos estéticos de Bergman. É o preferido do crítico Rubens Ewald Filho.