sexta-feira, 21 de junho de 2013

"Primavera Brasileira": Revolução ou Romantismo?


Liberdade de Pensamento é um dos pilares da democracia, certo? Pois vou exercer a minha. Garanto que 99,9% das pessoas que lerem isso vão achar: a) ingenuidade; b) conservadorismo; c) pensamento pequeno-burguês; d) visão globo-guiada; e) Todas as alternativas anteriores. Elogiar os movimentos que tem acontecido, pelo que eles tem de bom, é pleonástico. Sempre achei que Política se faz mais com atos que com votos e é claro que a redução do aumento dos ônibus em várias capitais tem que ser comemorada como demonstração inconteste da força das "vozes das ruas". Até aqui, ok. Porém, as hipérboles que tem sido utilizadas para falar desse momento (inclusive pela eternamente diabólica Globo) refletem um romantismo acrítico por, pelo menos, três motivos óbvios: 1) o movimento "Diretas Já" e "Caras-Pintadas" foram muito mais sigificativos, sejam pelas circunstâncias - ditadura militar e profunda crise econômica - seja pela grandeza das pautas - volta da democracia e derrubada de um presidente notoriamente corrupto. Ele não inaugura nada, mas reafirma uma tradição que se achava talvez esquecida, mas não morta; 2) 90% dos cartazes e faixas exibidos pelos manifestantes são dignos de hashtags de twitter: “Abaixo a corrupção”; “Mais Educação e Saúde”; “Menos desigualdades sociais”. Uma manifestação deve buscar adesão a uma causa comum: quem é a favor da corrupção ou contra os recursos para hospitais? Corruptos e corruptores! E eles não vão aderir a essa causa. Isso não é pauta de negociação, é tema de redação da 8ª série! Ainda existem pautas objetivas, conquistas reais que podem ser obtidas com pleno apoio popular, como a rejeição da PEC 37 e a rejeição do Projeto da “Cura Gay”, que podem dar um sentido claro e lideranças legítimas ao movimento. Ninguém vai acabar com o analfabetismo ou elevar nosso IDH a padrões escandinavos da noite para o dia (nem 1 milhão na Paulista ou 20 mil na Joana Angélica); 3) as manifestações não reunem dois grupos (manifestantes paz e amor e vândalos), mas três: gente com militância nas veias que sempre esteve, está e estará nas ruas, com plena consciência política (minha estimativa otimista – 25%), gente com vandalismo nas veias, que sempre esteve, está e estará procurando oportunidades de confusão e/ou saques (minha estimativa pessimista – 5%); gente que não tem a menor ideia do que esta fazendo ali, além de buscar um bom ângulo para a foto do face ou um video digno de curtidas no youtube (minha estimativa - 70%). A boa noticia é que alguns desses 70% podem de fato se agregar com os primeiros 25%. A má notícia é que com a consciência desses 25% vem também a responsabilidade. Considerando que errar uma vez é humano, mas duas é burrice, achar que convocar uma multidão para sair noite a dentro pelas ruas da cidades seria simplesmente como convocar um coro para entoar, de mãos dadas, “Vem, vamos embora...”, é lindo, mas totalmente fora da realidade desigual e exploradora que os próprios 25% denunciam; mas continuar convocando tais mobilizações, sem ao menos rever horários – manifestações só durante o dia - ou procedimentos – proibição de mochilas que podem esconder coquetéis molotov e outros brinquedinhos – é assumir – irresponsavelmente – a possibilidades dos mesmos fatos ocorrerem sempre ao final de cada manifestação. Milhões em prejuízo – que, em sua maioria, sairão do mesmo orçamento que não garante recursos para a educação e saúde tão reclamados –; centenas de feridos – incluindo policiais -; e dois mortos, duas vidas que se perderam no meio do caos – caos que nasce da semente plantada pelos vândalos, sem dúvida; mas no terreno fértil do esconderijo das multidões propiciado por manifestações que já tinham todas as provas necessária de que, indubitavelmente, após os movimentos, a violência eclodiria. Bom, esse é meu desabafo. Relutei em escrever, pois sabia que estava nadando contra a corrente do endeusamento das vozes da rua, mas após o anúncio da segunda morte, não consegui segurar. Minha esperança é que nos próximos dias haja ou pautas objetivas ou revisão das formas de manifestação. Caso essa revisão não impeça a violência, que se assumam os erros e suspendam-se as manifestações para uma reflexão mais profunda de novas formas de luta. Para os que entendem que vale a pena morrer e matar pela “causa”, seja ela qual for, e que protesto “comportado” não é protesto, é covardia, bom, ai, guerra é guerra, que venha Lei Marcial e Exército na Rua. Se isso aqui for Egito, é sinal de que esses estavam certos e vão ganhar no final; se isso aqui for Síria, é sinal de que a coisa vai piorar a cada dia e todos nós vamos perder. Tomara que isso aqui seja, definitivamente, Brasil e que consigamos achar uma maneira legitimamente democrática e popular de construir um país melhor.              

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