Liberdade de Pensamento é um dos pilares da democracia,
certo? Pois vou exercer a minha. Garanto que 99,9% das pessoas que lerem isso
vão achar: a) ingenuidade; b) conservadorismo; c) pensamento pequeno-burguês;
d) visão globo-guiada; e) Todas as alternativas anteriores. Elogiar os
movimentos que tem acontecido, pelo que eles tem de bom, é pleonástico. Sempre
achei que Política se faz mais com atos que com votos e é claro que a redução
do aumento dos ônibus em várias capitais tem que ser comemorada como demonstração
inconteste da força das "vozes das ruas". Até aqui, ok. Porém, as
hipérboles que tem sido utilizadas para falar desse momento (inclusive pela
eternamente diabólica Globo) refletem um romantismo acrítico por, pelo menos,
três motivos óbvios: 1) o movimento "Diretas Já" e
"Caras-Pintadas" foram muito mais sigificativos, sejam pelas
circunstâncias - ditadura militar e profunda crise econômica - seja pela
grandeza das pautas - volta da democracia e derrubada de um presidente notoriamente
corrupto. Ele não inaugura nada, mas reafirma uma tradição que se achava talvez
esquecida, mas não morta; 2) 90% dos cartazes e faixas exibidos pelos
manifestantes são dignos de hashtags de twitter: “Abaixo a corrupção”; “Mais
Educação e Saúde”; “Menos desigualdades sociais”. Uma manifestação deve buscar
adesão a uma causa comum: quem é a favor da corrupção ou contra os recursos
para hospitais? Corruptos e corruptores! E eles não vão aderir a essa causa. Isso
não é pauta de negociação, é tema de redação da 8ª série! Ainda existem pautas
objetivas, conquistas reais que podem ser obtidas com pleno apoio popular, como
a rejeição da PEC 37 e a rejeição do Projeto da “Cura Gay”, que podem dar um
sentido claro e lideranças legítimas ao movimento. Ninguém vai acabar com o
analfabetismo ou elevar nosso IDH a padrões escandinavos da noite para o dia
(nem 1 milhão na Paulista ou 20 mil na Joana Angélica); 3) as manifestações não
reunem dois grupos (manifestantes paz e amor e vândalos), mas três: gente com
militância nas veias que sempre esteve, está e estará nas ruas, com plena
consciência política (minha estimativa otimista – 25%), gente com vandalismo
nas veias, que sempre esteve, está e estará procurando oportunidades de
confusão e/ou saques (minha estimativa pessimista – 5%); gente que não tem a
menor ideia do que esta fazendo ali, além de buscar um bom ângulo para a foto
do face ou um video digno de curtidas no youtube (minha estimativa - 70%). A
boa noticia é que alguns desses 70% podem de fato se agregar com os primeiros
25%. A má notícia é que com a consciência desses 25% vem também a
responsabilidade. Considerando que errar uma vez é humano, mas duas é burrice,
achar que convocar uma multidão para sair noite a dentro pelas ruas da cidades
seria simplesmente como convocar um coro para entoar, de mãos dadas, “Vem,
vamos embora...”, é lindo, mas totalmente fora da realidade desigual e
exploradora que os próprios 25% denunciam; mas continuar convocando tais
mobilizações, sem ao menos rever horários – manifestações só durante o dia - ou
procedimentos – proibição de mochilas que podem esconder coquetéis molotov e
outros brinquedinhos – é assumir – irresponsavelmente – a possibilidades dos
mesmos fatos ocorrerem sempre ao final de cada manifestação. Milhões em prejuízo
– que, em sua maioria, sairão do mesmo orçamento que não garante recursos para
a educação e saúde tão reclamados –; centenas de feridos – incluindo policiais
-; e dois mortos, duas vidas que se perderam no meio do caos – caos que nasce
da semente plantada pelos vândalos, sem dúvida; mas no terreno fértil do
esconderijo das multidões propiciado por manifestações que já tinham todas as
provas necessária de que, indubitavelmente, após os movimentos, a violência
eclodiria. Bom, esse é meu desabafo. Relutei em escrever, pois sabia que estava
nadando contra a corrente do endeusamento das vozes da rua, mas após o anúncio
da segunda morte, não consegui segurar. Minha esperança é que nos próximos dias
haja ou pautas objetivas ou revisão das formas de manifestação. Caso essa
revisão não impeça a violência, que se assumam os erros e suspendam-se as
manifestações para uma reflexão mais profunda de novas formas de luta. Para os
que entendem que vale a pena morrer e matar pela “causa”, seja ela qual for, e
que protesto “comportado” não é protesto, é covardia, bom, ai, guerra é guerra,
que venha Lei Marcial e Exército na Rua. Se isso aqui for Egito, é sinal de que
esses estavam certos e vão ganhar no final; se isso aqui for Síria, é sinal de
que a coisa vai piorar a cada dia e todos nós vamos perder. Tomara que isso
aqui seja, definitivamente, Brasil e que consigamos achar uma maneira
legitimamente democrática e popular de construir um país melhor.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
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