Depois de uma conversa com a amiga Regina Célia, figura cultíssima, que já leu duas vezes todo que eu pretendo um dia ainda ler, tive idéias para três posts diferentes: um sobre a importância atual dos psicólogos, e de como as suas opiniões parecem estar sendo requisitadas ultimamente; uma sobre a dificuldade de alguma obra que defina o nosso tempo, ou algum autor ou escola de pensamento que realmente consiga captar o nosso "zeitgeist", como diriam os alemãos, o espírito da nossa época; e, por fim, um post crítico acerca de três vozes que para mim (com todo respeito aos que gostam) significam a celebritização da filosofia de bula de remédio, seja oferecendo o caminho mais curto para uma visão do inferno (Malu Fontes), seja, pelo contrário, oferecendo um bilhete só de ida para a libertinagem sem eira nem beira (Roberto Albergaria), ou, por fim, sempre nos brindando com o melhor da mais fina filosofia de porta de banheiro de escola secundária, o comandante da nave louca (Pedro Bial). Como imagino que 99,9% da pessoas adoram um barraco, vou deixar para falar mal dos três arautos da filosofia midiática e raquítica por último. Por enquanto, vou dar umas canetadas aqui sobre aquelas duas questões iniciais, começando pelos psicólogos e sua importância contemporânea para além da compreensão do indivíduo. Ou, em outras palavras, porque Freud pode ser mais importânte do que Marx para entender a sociedade em que vivemos.
Tenho notado que algumas das figuras mais ouvidas ultimamente quando se procura entender a nossa sociedade atual não são sociólogos, economistas, políticos ou mesmo filósofos (ainda que alguns aceitem também essa denominação, mesmo tendo formação original diversa). Tratam-se dos psicólogos. Quando penso em psicologos, a primeira coisa que me vem à cabeça é o divã. Não o Divã, filme estrelado por Lilia Cabral (ótimo, por sinal). Nem Odivan, ex-zagueiro do Vasco (cujo nome, reza a lenda, foi inspirado num sucesso de Roberto Carlos - o cantor, não o lateral - chamado, pasmem, "O Divã"). Mas não é verdade? O que tem mais cara de psicólogo do que aquele móvel estranho, mistura de sofá com cama, recentemente filmado com um usuário ilustre (ainda que não muito nobre), o Arruda, recebendo uma grana para comprar uns panetones, que sairam bem indigestos para ele (O panetonegate daria um ótimo post, mas agora já é notícia velha). Bom, voltando ao divã, o que há de mais solitário, de mais íntimo, do que alguém deitado num divã, contando seus segredos mais secretos, seus medos mais intensos, para alguém que, na maioria das vezes, apenas ouve. Soltando, é claro, uns "Hum, Hum...", para justificar a cobrança por hora. Na verdade, essa cobrança se justifica mesmo sem essas onomatopéias monossilábicas. São em sua grande maioria, profissionais extremamente dedicados, que ajudam muito pessoas a superarem problemas que elas imaginam intransponíveis. Mas ainda assim, essa ajuda normamente é individual. Trata-se de um diálogo (muitas vezes do paciente consigo mesmo) travado à exaustão. Exige uma confiança mútua enorme, construída de forma consistente. Talvez beire o exagero (ou apenas manifeste a exatidão da tese freudiana), mas acredito que, sob certos aspectos, podemos comparar a análise ao sexo. Psicólogos(as) e prostitutas(os) podem ter mais em comum do que a letra inicial. Em ambos os casos pagamos alguém para o exercício da penetração: física, no caso do sexo prostituído; psiquica, no caso da análise psicológica. A completa submissão de um poderoso homem de negócios sob as botas salto Luiz XV de uma dominatrix envelopada num latex negro brilhante não poderia ser comparada à reconhecimento, aos prantos, do medo do fracasso corporativo por este mesmo chefão, só que agora sob a angulação do cachimbo de um velho discispulo de Lacan ou Jung? Sem contar que nos dois casos, a depender da intensidade da atividade, ambos os casos deixam os clientes/pacientes exaustos.
Então, como algo tão pessoal, tão íntimo pode servir de ponte para um profissional avaliar a sociedade como um todo? Bom, pelo menos me lembro, lá das minhas aulas com a professora Palácios, no meu primeiro semestre de urbanismo, de um caso onde se provou que o comportamento mais individual pode ter uma relação direta com a sociedade: O Suicídio, de Emile Durkheim. Justamente para justificar ainda mais as bases da nascente sociologia, Durkheim utilizou-se do ato que parece ser o mais individuial possível, tirar a própria vida, para provar como o nosso comportamento individual reflete as agruras da sociedade. Ao que parece, estamos fazendo, no início do século XXI, o caminho inverso proposto no final do século XIX: ao invés de procurar reconhecer no comportamento individual a influência da sociedade, uma nova safra de psico-filósofos procura desvelar as patologias sociais a partir da analogia com os quadros típicos das patologias mentais. Nesta linha de raciocínio, podemos propor a seguinte imagem: a sociedade nada mais é que um cérebro coletivo, cujos neurônios são os cérebros individuais. Porque a pertubação das nossas micro-sinapses não pertubaria as macro-sinapses que construem o mundo aqui fora?
Assim, podemos falar agora em neurose social ou amnesia coletiva. Podemos falar em depressão econômica ou esquizofrenia política (muito comum em épocas eleitorais, na busca de aliados a qualquer preço). Podemos, enfim, transportar, por analogia, as inquietações que abalam nossa alma para descrever o estado crítico da sociedade como um todo. Alguns nomes destacam-se nessa tradução, que aqui chamo de psico-filosófica: os brazucas Maria Rita Kelh e Contardo Caligaris e os gringos Cornelius Castoriadis e Zlavoj Zizek. Não pretendo aqui fazer uma resenha da produção intelectual dos citados, mas é facil encontrar artigos, livros e entrevistas dessas figuras dando opiniões que vão muito além da descrição das fases oral, anal, fálica, latente e genital. Só posso dizer de imediato que admiro a todos. Maria Rita Kehl deu uma das melhores entrevistas já publicadas na Revista Muito, suplemento dominical do A Tarde. Contardo Caligaris tem uma coluna impedível na Folha de São Paulo. Castoriadis é um sábio à moda antiga, que transita com facilidade por várias searas intelecutais, tendo pelo menos uma obra obrigatória: A Instituição Imaginária da Sociedade. Além disso, é a principal referência de Marcelo Lopes de Souza, geógrafo voltado para as questões urbanas e que é uma das minhas principais referências. Por fim, Zizek é um dos críticos sociais mais "hypados" do momento, tendo lançado recentemente mais um livro de críticas ácidas à sociedade atual: Visão em Paralaxe. Uma das principais características de suas obras é o uso de símbolos da dita cultura pop descartável para mapear as brechas compreensivas do mundo (mostra disso é a descrição "papo-cabeça" da cena do consultório do dentista da animação Procurando Nemo). Apesar de ser acusado de excessivamente midiático (tendo sido confrontado por Maria Rita Kehl num momento clássico de um Roda Viva da TV Cultura), acredito que Zizek trouxe um tempero mais que bem vindo para animar a discussão sobre a contemporaneidade.
Assim, ao que tudo indica, a psicologia está na crista da onda em matéria de decodificar esse mundo "desbussolado" (expressão tipicamente psicológica, não acha?) em que vivemos. Parece que finalmente estamos em vias de confirmar o famoso bordão popular: Só Freud Explica...
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Participação Popular nas Políticas Públicas de Desenvolvimento Urbano
Às vezes queremos rodar os ponteiros do relógio ao contrário, parar o tempo, nos acomodar, fazer as coisas como sempre fizemos. Afinal, em time que está ganhando... Mas você já parou para pensar que o outro time não deve estar gostando nada dessa história. Assim, mudanças são inevitáveis, principalmente quando estamos em meio à convivência social, onde o placar normalmente favorece a uma pequena minoria, enquanto a maioria fica a maior parte do tempo sem a bola nos pés. E tomando de goleada!
Podemos visualizar o ponteiro da história em sua marcha inexorável (para desespero de alguns) no sentido de uma maior abertura do Estado para a participação popular na elaboração das políticas públicas. Seja pela perda da condição de todo-poderoso provedor, engolido que foi o Estado pela Crise do Financiamento Público na década de 80, ou pelo erguimento da Sociedade Civil frente à inércia, em muitos casos, intencional, do Estado no enfrentamento efetivo das questões ambientais, urbanas e sociais, o fato é que não dá mais para se cogitar fazer planejamento urbano sem participação popular. A necessidade de reconquistar a autoridade perdida, desta vez não pelo caminho da força, mas sim através da construção mútua de legitimidade, abriu as portas do Estado, fazendo com que novos atores ocupassem o palco da governança.
No Brasil, a semente plantada em 1988, germinou em 2001 e floresceu em 2003, ganhando mais força a cada dia. O capítulo de política urbana da Carta Magna representou o abrir de olhos diante de uma realidade que já não dava para ignorar. O Estatuto da Cidade, por sua vez, serviu para escorar definitivamente a porta entreaberta. Já o Conselho das Cidades materializou o que era vontade para alguns e sapo a ser engolido por outros. Na sequência, em 2007, a Bahia entrou em sintonia com o Paradigma Participativo, criando o CONCIDADES/BA.
Não desprezando os avanços alcançados, bem como reconhecendo que não é nem de uma hora para outra que se muda uma cultura política encravada em um sociedade, mais do que em um aparelho de estado, nem existe receita pronta para a gestão democrática (trata-se de aprender fazendo), há de se reconhecer que ainda estamos longe de uma participação efetiva da população em geral na elaboração (destaquemos: ELABORAÇÃO e não LEGITIMAÇÃO) de políticas públicas urbanas na Bahia. Ao reconhecer a importância do CONCIDADES/BA até agora e, mais importante, o potencial que essa instância tem para ser a grande mesa de negociação entre Estado, Mercado e Sociedade Civil no que toca à configuração de um modelo de desenvolvimento urbano socialmente igualitário, economicamente includente e ambientalmente equilibrado, fica patente a sua subutilização, haja vista a pauta que vem se esvaziando nos últimos anos em termos de decisões estruturantes para o ordenamento urbano do estado. Essa subutilização só não é pior que o aviltamento provocado pela redução da consulta ao conselho à mera formalidade, sem qualquer efeito efetivamente deliberativo sobre os rumos da rede urbana estadual. Casos como o da "discussão" do Projeto de Lei de Saneamento, para não falar de outros, são exemplo de como não se deve fazer a gestão democrática do desenvovimento urbano.
O CONCIDADE/BA tem um corpo de conselheiros extremamente diversificado no que toca aos seus campos de atuação, bem como ao conhecimento técnico e mesmo posicionamento ideológico em relação ao Governo do Estado. Essa diversidade, se por um lado, torna difícil a articulação entre os representantes de cada segmento, por outro cria uma pluralidade que certamente submeterá os projetos estruturantes do desenvolvimento urbano estadual a um crivo qualificante, multidimensional e transescalar, ampliando em muito as condições desses projetos alterarem positivamente a realidade. Subutilizar esse imenso potencial ou transformá-lo em mera formalidade, desestimulando conselheiros e provocando reuniões cada vez mais esvaziadas não só é uma caricaturização da gestão democrática do desenvolvimento urbano, como pode significar um processo de definhamento do conselho em si, o que será uma perda irreparável. Será como voltar os ponteiros do relógio da História para trás. E todos os jogadores, ganhando ou perdendo com isso, sairão de campo vaiados pelos torcedores do "Democracia Futebol Clube".
Para quem quiser maiores detalhes sobre a participação popular na gestão pública, no planejamento urbano e na gestão urbana, pode dar uma olhada em um artigo nosso publicado na excelente Revista do Observatório do Milênio n.º 01 , Ano 2, de Belo Horizonte. (http://observatoriodomilenio.pbh.gov.br/)
Podemos visualizar o ponteiro da história em sua marcha inexorável (para desespero de alguns) no sentido de uma maior abertura do Estado para a participação popular na elaboração das políticas públicas. Seja pela perda da condição de todo-poderoso provedor, engolido que foi o Estado pela Crise do Financiamento Público na década de 80, ou pelo erguimento da Sociedade Civil frente à inércia, em muitos casos, intencional, do Estado no enfrentamento efetivo das questões ambientais, urbanas e sociais, o fato é que não dá mais para se cogitar fazer planejamento urbano sem participação popular. A necessidade de reconquistar a autoridade perdida, desta vez não pelo caminho da força, mas sim através da construção mútua de legitimidade, abriu as portas do Estado, fazendo com que novos atores ocupassem o palco da governança.
No Brasil, a semente plantada em 1988, germinou em 2001 e floresceu em 2003, ganhando mais força a cada dia. O capítulo de política urbana da Carta Magna representou o abrir de olhos diante de uma realidade que já não dava para ignorar. O Estatuto da Cidade, por sua vez, serviu para escorar definitivamente a porta entreaberta. Já o Conselho das Cidades materializou o que era vontade para alguns e sapo a ser engolido por outros. Na sequência, em 2007, a Bahia entrou em sintonia com o Paradigma Participativo, criando o CONCIDADES/BA.
Não desprezando os avanços alcançados, bem como reconhecendo que não é nem de uma hora para outra que se muda uma cultura política encravada em um sociedade, mais do que em um aparelho de estado, nem existe receita pronta para a gestão democrática (trata-se de aprender fazendo), há de se reconhecer que ainda estamos longe de uma participação efetiva da população em geral na elaboração (destaquemos: ELABORAÇÃO e não LEGITIMAÇÃO) de políticas públicas urbanas na Bahia. Ao reconhecer a importância do CONCIDADES/BA até agora e, mais importante, o potencial que essa instância tem para ser a grande mesa de negociação entre Estado, Mercado e Sociedade Civil no que toca à configuração de um modelo de desenvolvimento urbano socialmente igualitário, economicamente includente e ambientalmente equilibrado, fica patente a sua subutilização, haja vista a pauta que vem se esvaziando nos últimos anos em termos de decisões estruturantes para o ordenamento urbano do estado. Essa subutilização só não é pior que o aviltamento provocado pela redução da consulta ao conselho à mera formalidade, sem qualquer efeito efetivamente deliberativo sobre os rumos da rede urbana estadual. Casos como o da "discussão" do Projeto de Lei de Saneamento, para não falar de outros, são exemplo de como não se deve fazer a gestão democrática do desenvovimento urbano.
O CONCIDADE/BA tem um corpo de conselheiros extremamente diversificado no que toca aos seus campos de atuação, bem como ao conhecimento técnico e mesmo posicionamento ideológico em relação ao Governo do Estado. Essa diversidade, se por um lado, torna difícil a articulação entre os representantes de cada segmento, por outro cria uma pluralidade que certamente submeterá os projetos estruturantes do desenvolvimento urbano estadual a um crivo qualificante, multidimensional e transescalar, ampliando em muito as condições desses projetos alterarem positivamente a realidade. Subutilizar esse imenso potencial ou transformá-lo em mera formalidade, desestimulando conselheiros e provocando reuniões cada vez mais esvaziadas não só é uma caricaturização da gestão democrática do desenvolvimento urbano, como pode significar um processo de definhamento do conselho em si, o que será uma perda irreparável. Será como voltar os ponteiros do relógio da História para trás. E todos os jogadores, ganhando ou perdendo com isso, sairão de campo vaiados pelos torcedores do "Democracia Futebol Clube".
Para quem quiser maiores detalhes sobre a participação popular na gestão pública, no planejamento urbano e na gestão urbana, pode dar uma olhada em um artigo nosso publicado na excelente Revista do Observatório do Milênio n.º 01 , Ano 2, de Belo Horizonte. (http://observatoriodomilenio.pbh.gov.br/)
Socorro, criei um blog!!
É, acredito que seja inevitável nos dias de hoje não criar um blog. Enquanto pude, evitei gerar mais esse compromisso. Afinal, para que ter um blog se você não o atualiza constantemente, o que exige um certo nível de dedicação e disciplina? Mas o fato é que, na sociedade atual, acredito que estamos revivendo um velho slogan punk: "Do it yourself", ou seja, "Faça você mesmo". A miniaturização das tecnologias e a difusão da internet banda larga (ainda pequena, mas em franca espansão) permitem que qualquer um conte para o mundo a sua verdade particular. Aliais, esse é outro motivo para se criar um blog. Os pós-estruturalistas (Lyotard, Baudrillard) decretaram a morte da verdade a partir da denúncia do vazio das grandes narrativas (a religião, o progresso, a utopia). A partir de uma lógica que é meramente discursiva, ou seja, desprovida de qualquer base material e calcada no processo de convencimento interpessoal, qualquer explicação do mundo hoje torna-se apenas mais uma explicação do mundo. Qualquer verdade não é nada mais que uma verdade particular.
Assim, se por um lado é simples falar para todo o mundo (hoje, com a www, literalmente), por outro é insuportável o desconforto psicológico do vazio de expectativas gerado por esse fim das grandes narrativas. Não saber para onde o mundo caminha faz reprisar a mesma vertigem que nossos tataravôs sentiram ao partir em direção ao Atlântico, torcendo para o tal de Colombo estar certo e o mundo ser redondo para não cairem no abismo. Assim, num exercício de auto-defesa da própria sanidade, lançamos mensagens em garrafas no oceano virtual, a fim de receber algum sinal de que há vida inteligente do outro lado da telinha. Nem que seja para mandar você parar de poluir o mar com suas inseguranças. Assim, viva aos orkuts, youtubes e blogues da vida! Mais do que tribalizar o mundo, eles nos permitem falar em nome de alguma coisa: nós mesmos.
Na verdade, a blogosfera já amadureceu enquanto midia a ponto de não conter apenas romantismos neo-nostálgicos, pulsões discursivas desse animal, mais que racional, comunicacional, que é o homem, que para se sentir como tal precisa espelhar a sua racionalidade em um outro comunicante. Hoje, utiliza-se blogues de forma profissional, seja para inocular uma necessidade de consumo ou apenas para se tornar um objeto de consumo. Isso sem falar nos microblogues (os famosos "twitters") que nada mais são que a junção das duas características da nossa era, citadas acima: a verdade particular e a miniaturização generalizada. Assim, cresce o espaço da nano-verdade, reafirmando o que disse Macluhan: the mensage is the mensage", ou seja, não é o conteúdo da obra que importa, mas sim sua autoria. Saber que alguém deu uma topada no pé da mesa não interessa. A menos que o pé seja de alguma celebridade (mesmo uma sub-celebridade, cuja nano-fama remonta a um passado perene, cristalizado no prefixo "ex": ex-bbb, ex-Casa dos Artistas, Ex-Mocinha da Novela das Seis direto do Tunel do Tempo. Enfim, após se comemorar o acerto da previsão de Andy Wahol, vem a crise de abstinência e, em flagrante incompatibilidade com o consumo do efêmero, busca-se eternizar os tais 15 minutos. Uma vez sob as luzes da ribalta, sentar-se em meio ao anonimato da plateia é morrer em vida).
Mas não obstante a importância dos blogues profissionais, eminetemente jornalísticos (ainda que se entenda o termo "jornalístico" para muito além da informação de utilidade pública, sem no entanto chegar ao exagero de compará-los a cozinheiros - que, diga-se de passagem, são o mais novo filão da celebritização instantânea, apenas com um nomezinho mais pomposo: "chef"), voltado para a economia, negócio ou política, acredito que o "blogar por blogar" ainda tem espaço nas megabytes das bandas largas dos nossos lares. Aliais, esse é o terceiro motivo para se criar um blog: fazê-lo sem obrigação. Assim, quando falei acima do compromisso de escrever diariamente num blog, se esse compromisso se tornar uma obrigação, salto fora. Porque enquanto obrigação vem de imposição, de ser obrigado a fazer algo mesmo contra a vontade, compromisso vem de comprometimento, ou seja, uma promessa mútua, que liga, voluntariamente, o seu desejo com a oportunidade de fazer.
Assim, enquanto juntar tudo isso (micro-midias, pós-estruturalismo, nano-verdades, neo-nostalgias, etc) for mais interessante do que ter que renegociar as promessas do Reveillon, acho que fico por aqui. Para falar de urbanismo, direito e, brevemente, administração pública; opinar sobre política e economia; ou simplesmente comentar sobre cultura, lazer, música, cinema, literatura, viagens, etc. Sem sabedoria milenar ou frase do dia. Apenas mais uma garrafa no oceano.
Assim, se por um lado é simples falar para todo o mundo (hoje, com a www, literalmente), por outro é insuportável o desconforto psicológico do vazio de expectativas gerado por esse fim das grandes narrativas. Não saber para onde o mundo caminha faz reprisar a mesma vertigem que nossos tataravôs sentiram ao partir em direção ao Atlântico, torcendo para o tal de Colombo estar certo e o mundo ser redondo para não cairem no abismo. Assim, num exercício de auto-defesa da própria sanidade, lançamos mensagens em garrafas no oceano virtual, a fim de receber algum sinal de que há vida inteligente do outro lado da telinha. Nem que seja para mandar você parar de poluir o mar com suas inseguranças. Assim, viva aos orkuts, youtubes e blogues da vida! Mais do que tribalizar o mundo, eles nos permitem falar em nome de alguma coisa: nós mesmos.
Na verdade, a blogosfera já amadureceu enquanto midia a ponto de não conter apenas romantismos neo-nostálgicos, pulsões discursivas desse animal, mais que racional, comunicacional, que é o homem, que para se sentir como tal precisa espelhar a sua racionalidade em um outro comunicante. Hoje, utiliza-se blogues de forma profissional, seja para inocular uma necessidade de consumo ou apenas para se tornar um objeto de consumo. Isso sem falar nos microblogues (os famosos "twitters") que nada mais são que a junção das duas características da nossa era, citadas acima: a verdade particular e a miniaturização generalizada. Assim, cresce o espaço da nano-verdade, reafirmando o que disse Macluhan: the mensage is the mensage", ou seja, não é o conteúdo da obra que importa, mas sim sua autoria. Saber que alguém deu uma topada no pé da mesa não interessa. A menos que o pé seja de alguma celebridade (mesmo uma sub-celebridade, cuja nano-fama remonta a um passado perene, cristalizado no prefixo "ex": ex-bbb, ex-Casa dos Artistas, Ex-Mocinha da Novela das Seis direto do Tunel do Tempo. Enfim, após se comemorar o acerto da previsão de Andy Wahol, vem a crise de abstinência e, em flagrante incompatibilidade com o consumo do efêmero, busca-se eternizar os tais 15 minutos. Uma vez sob as luzes da ribalta, sentar-se em meio ao anonimato da plateia é morrer em vida).
Mas não obstante a importância dos blogues profissionais, eminetemente jornalísticos (ainda que se entenda o termo "jornalístico" para muito além da informação de utilidade pública, sem no entanto chegar ao exagero de compará-los a cozinheiros - que, diga-se de passagem, são o mais novo filão da celebritização instantânea, apenas com um nomezinho mais pomposo: "chef"), voltado para a economia, negócio ou política, acredito que o "blogar por blogar" ainda tem espaço nas megabytes das bandas largas dos nossos lares. Aliais, esse é o terceiro motivo para se criar um blog: fazê-lo sem obrigação. Assim, quando falei acima do compromisso de escrever diariamente num blog, se esse compromisso se tornar uma obrigação, salto fora. Porque enquanto obrigação vem de imposição, de ser obrigado a fazer algo mesmo contra a vontade, compromisso vem de comprometimento, ou seja, uma promessa mútua, que liga, voluntariamente, o seu desejo com a oportunidade de fazer.
Assim, enquanto juntar tudo isso (micro-midias, pós-estruturalismo, nano-verdades, neo-nostalgias, etc) for mais interessante do que ter que renegociar as promessas do Reveillon, acho que fico por aqui. Para falar de urbanismo, direito e, brevemente, administração pública; opinar sobre política e economia; ou simplesmente comentar sobre cultura, lazer, música, cinema, literatura, viagens, etc. Sem sabedoria milenar ou frase do dia. Apenas mais uma garrafa no oceano.
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