É, acredito que seja inevitável nos dias de hoje não criar um blog. Enquanto pude, evitei gerar mais esse compromisso. Afinal, para que ter um blog se você não o atualiza constantemente, o que exige um certo nível de dedicação e disciplina? Mas o fato é que, na sociedade atual, acredito que estamos revivendo um velho slogan punk: "Do it yourself", ou seja, "Faça você mesmo". A miniaturização das tecnologias e a difusão da internet banda larga (ainda pequena, mas em franca espansão) permitem que qualquer um conte para o mundo a sua verdade particular. Aliais, esse é outro motivo para se criar um blog. Os pós-estruturalistas (Lyotard, Baudrillard) decretaram a morte da verdade a partir da denúncia do vazio das grandes narrativas (a religião, o progresso, a utopia). A partir de uma lógica que é meramente discursiva, ou seja, desprovida de qualquer base material e calcada no processo de convencimento interpessoal, qualquer explicação do mundo hoje torna-se apenas mais uma explicação do mundo. Qualquer verdade não é nada mais que uma verdade particular.
Assim, se por um lado é simples falar para todo o mundo (hoje, com a www, literalmente), por outro é insuportável o desconforto psicológico do vazio de expectativas gerado por esse fim das grandes narrativas. Não saber para onde o mundo caminha faz reprisar a mesma vertigem que nossos tataravôs sentiram ao partir em direção ao Atlântico, torcendo para o tal de Colombo estar certo e o mundo ser redondo para não cairem no abismo. Assim, num exercício de auto-defesa da própria sanidade, lançamos mensagens em garrafas no oceano virtual, a fim de receber algum sinal de que há vida inteligente do outro lado da telinha. Nem que seja para mandar você parar de poluir o mar com suas inseguranças. Assim, viva aos orkuts, youtubes e blogues da vida! Mais do que tribalizar o mundo, eles nos permitem falar em nome de alguma coisa: nós mesmos.
Na verdade, a blogosfera já amadureceu enquanto midia a ponto de não conter apenas romantismos neo-nostálgicos, pulsões discursivas desse animal, mais que racional, comunicacional, que é o homem, que para se sentir como tal precisa espelhar a sua racionalidade em um outro comunicante. Hoje, utiliza-se blogues de forma profissional, seja para inocular uma necessidade de consumo ou apenas para se tornar um objeto de consumo. Isso sem falar nos microblogues (os famosos "twitters") que nada mais são que a junção das duas características da nossa era, citadas acima: a verdade particular e a miniaturização generalizada. Assim, cresce o espaço da nano-verdade, reafirmando o que disse Macluhan: the mensage is the mensage", ou seja, não é o conteúdo da obra que importa, mas sim sua autoria. Saber que alguém deu uma topada no pé da mesa não interessa. A menos que o pé seja de alguma celebridade (mesmo uma sub-celebridade, cuja nano-fama remonta a um passado perene, cristalizado no prefixo "ex": ex-bbb, ex-Casa dos Artistas, Ex-Mocinha da Novela das Seis direto do Tunel do Tempo. Enfim, após se comemorar o acerto da previsão de Andy Wahol, vem a crise de abstinência e, em flagrante incompatibilidade com o consumo do efêmero, busca-se eternizar os tais 15 minutos. Uma vez sob as luzes da ribalta, sentar-se em meio ao anonimato da plateia é morrer em vida).
Mas não obstante a importância dos blogues profissionais, eminetemente jornalísticos (ainda que se entenda o termo "jornalístico" para muito além da informação de utilidade pública, sem no entanto chegar ao exagero de compará-los a cozinheiros - que, diga-se de passagem, são o mais novo filão da celebritização instantânea, apenas com um nomezinho mais pomposo: "chef"), voltado para a economia, negócio ou política, acredito que o "blogar por blogar" ainda tem espaço nas megabytes das bandas largas dos nossos lares. Aliais, esse é o terceiro motivo para se criar um blog: fazê-lo sem obrigação. Assim, quando falei acima do compromisso de escrever diariamente num blog, se esse compromisso se tornar uma obrigação, salto fora. Porque enquanto obrigação vem de imposição, de ser obrigado a fazer algo mesmo contra a vontade, compromisso vem de comprometimento, ou seja, uma promessa mútua, que liga, voluntariamente, o seu desejo com a oportunidade de fazer.
Assim, enquanto juntar tudo isso (micro-midias, pós-estruturalismo, nano-verdades, neo-nostalgias, etc) for mais interessante do que ter que renegociar as promessas do Reveillon, acho que fico por aqui. Para falar de urbanismo, direito e, brevemente, administração pública; opinar sobre política e economia; ou simplesmente comentar sobre cultura, lazer, música, cinema, literatura, viagens, etc. Sem sabedoria milenar ou frase do dia. Apenas mais uma garrafa no oceano.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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