COMPILAÇÃO
- RESUMO
FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro:
Zahar, 1983.
INTRODUÇÃO
– Antônio Cândido
P. 08 – À medida que a vida
humana fragmenta-se pela complexidade das tarefas e interesses, mais
consolida-se a função da arte, que é refundir o homem consigo mesmo.
P. 09 – Com as crises do
capitalismo, a arte tem como principal questão criar uma ponte entre o povo e o
artista.
P. 10 – Na atualidade, a
angústia é um privilégio dos que dispõem de ócio.
CAPÍTULO
1 – A FUNÇÃO DA ARTE
P. 11 – Mondrian entendia
que a arte se tornaria dispensável à medida que o homem encontra-se seu
equilíbrio. Segundo Fischer, com isso é impossível, a arte nunca desaparecerá.
P. 12 – A necessidade de se
sentir um homem total, uma plenitude impedida pelas limitações humanas, faz o
homem não se satisfazer com a sua própria existência.
P. 13 – A arte é o meio
indispensável para esta união do indivíduo com o todo.
P. 14 – o artista deve
transformar a experiência em memória e a memória em expressão.
P. 14 – A paixão que consome
o diletante serve ao verdadeiro artista.
P. 15 – Bertold Brecht afirma
que o efeito da arte para a classe dominante é esconder a luta de classes pela
afirmação de uma universalidade da obra de arte. Para Brecht, o que a arte deve
é justamente enfatizar a luta de classes e incita-la.
P. 17 – Toda arte é, ao
mesmo tempo, produto do seu tempo e produtora de um momento atemporal da
humanidade.
P. 19 – Em sua origem, a
arte foi magia. Ciência, religião e arte se uniram na aurora dos tempos.
P. 19 – A arte jamais é mera
descrição clínica do real.
P. 20 – Mesmo a arte
militante não pode perder o seu caráter “mágico”, pois senão deixa de ser arte.
P. 20 – A arte é tão
necessária pelo seu potencial de mudar o mundo ao incitar a ação reflexiva
quanto pelo seu potencial de mudar o homem ao incitar a imaginação emocional.
CAPÍTULO
2 – AS ORIGENS DA ARTE
P. 21 – A arte é uma forma
de trabalho e é esse que caracteriza o animal humano. (Fagner - A ideia do homo faber anteceder o homo
sapiens).
P. 27 – A experiência da
necessidade gera a resposta do instrumento ocasional (uma vara usada para pegar
uma fruta). Porém, é com a criatividade que se gera o instrumento padronizado
(vara como extensão do braço).
P. 30 – Foi a partir da
complexificação do trabalho que os sinais rudimentares e escassos do homem
foram se desenvolvendo em direção a uma linguagem sofisticada.
P. 41 – Dupla natureza do
homem: 1) o homem pertence à natureza; 2) o homem pertence a uma supra-natureza
que ele criou.
P. 42 – O primeiro homem a
fazer um instrumento foi o primeiro artista.
P. 45 – A função da arte nos
seres primordiais foi a de conferir poder, uma vez que a arte molda a realidade
para além da realidade, favorecendo aqueles que dominam a arte, direta ou
indiretamente. (Fagner – Isso pode
explicar alguns momentos de “mecenato” e aproximação de artistas e os poderoso,
numa linha próxima a anteriormente exposta por Brecht).
P. 47 – A arte é
essencialmente coletiva. Ainda que possa ser uma expressão individual, essa
expressão só se torna arte a partir da intersubjetividade entre artista e
plateia. (Fagner – Para mim, essa
“condição intersubjetiva” da arte é a base do seu entendimento. Por ela, um
“artista” que nunca expusesse suas obras não pode ser assim chamado. Concordo
plenamente).
P. 50 – Numa sociedade
dividida em classes, as classes recrutam a arte para seus propósitos.
P. 51 – O feiticeiro, na
sociedade primitiva, era artista e representante do coletivo junto aos deuses.
Com a evolução da sociedade, o vínculo entre o feiticeiro e o artista se
desfaz, mas não o vínculo entre o artista e a sociedade. E nessa intermediação,
a individualidade do artista submete-se à sua função de intermediador.
P. 52 – O preço da
diferenciação da habilidade e da diferenciação das classes, ao lado da
complexidade humana de modo geral, levou à alienação do homem tanto do homem
quanto de si mesmo.
P. 55 – A ascensão dos
mercadores e comerciantes no mundo feudal levou também à ascensão do
individualismo também nas artes.
P. 56 – Apesar da nova
individualidade na arte, ainda havia o traço da coletividade na relevância da
expressão artística.
P. 57 – A sociedade precisa
do artista e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função
social. (Fagner – E este tem o dever de
atender a esse pedido?)
P 57 – Usualmente o artista
reconhece uma dupla função: 1) aquela imposta ela sociedade; 2) aquela imposta
por sua consciência. Quando há uma incompatibilidade frequente entre as duas, é
um sinal de um crescente antagonismo no interior da sociedade.
P. 58 – Em um mundo em
decadência, a arte, para ser verdadeira, deve expressar essa decadência. Mas
deve, em atendimento à sua função social, mostrar que o mundo precisa ser
mudado. E ajudar a muda-lo.
CAPÍTULO
3 – A ARTE E O CAPITALISMO
P. 59 – Com a consolidação
do capitalismo, tudo se tornar mercadoria. Isso ocorre também com a arte,
tornando o artista um produtor de mercadorias como outro qualquer.
P. 60 – Enquanto a sociedade
pré-capitalista tendia à extravagância, gerando o mecenato artístico, a
sociedade capitalista impõe a lógica do lucro à arte.
P. 61 – Ao mesmo tempo em
que o capitalismo foi hostil à arte (impondo-lhe a lógica do lucro em
substituição à liberdade do mecenato), por outro lado, libertou o artista da
dependência do mecenas, possibilitado acessar novas formas de subsistência pela
arte.
P. 62 – Ao longo do processo
de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna (Renascimento, Revolução
Francesa), o artista ainda podia exprimir suas ideias. Porém, a partir de 1848
e da consolidação do capitalismo, os artistas entram no mundo capitalista da
produção de mercadorias artísticas.
P. 63 – O Romantismo foi um
movimento de protesto contra o mundo burguês. Era a expressão artística das
dores do parto da sociedade capitalista.
P. 64 – o Romantismo
defendia que nenhum tema era comum demais para ser excluído da arte.
P. 65 – O Romantismo dava
destaque ao “eu”, porém um “eu” que oscilava entre o rebelde e o derrotado.
P. 67 – Características do
Romantismo: sensação de desconforto do artista perante o mundo; certa
preocupação com o povo (que tinha um caráter mitificado); e celebração do
caráter único do individuo.
P. 67 – Apesar de sua
revolta contra a lógica capitalista, o artista romântico foi o primeiro a
produzir arte como mercadoria.
P. 70 – O Romantismo Alemão
foi o mais radical, pronunciando-se contra qualquer progresso (associando este
ao capitalismo) e enaltecendo o passado.
P. 71 – A sexualidade e o
conceito de dionisíaco/apolíneo do Romantismo antecederam Freud e Nietzsche,
respectivamente.
P. 74 – O conceito de “folklore” (cultura popular) foi
desenvolvido pelo Romantismo.
P. 75 – A arte se originou
de uma necessidade coletiva, porém é o individuo que produz arte.
P. 80 – A “arte pela arte”
foi um movimento conexo com o Romantismo, tendo como representante Charles
Baudelaire.
P. 80 – A “Arte pelo Arte” é
uma reação a arte como mercadoria.
P. 82 – Para Fischer, mesmo
a “Arte pela Arte” foi apenas uma tentativa ilusória de libertação.
P. 83 – O Impressionismo foi
também uma revolta contra a arte oficial.
P. 86 – O termo
Impressionismo decorre de uma pintura de Claude Monet exposta em 1874.
P. 89 – O Naturalismo, cujos
representantes são Zola e Flaubert, buscava uma arte ainda mais radical do que
aquela produzida pelo Realismo.
P. 89 – Apesar de querer
aparentar imparcialidade, o Naturalismo também é uma reação contra o mundo
burguês.
P. 90 – O homem, para o
Naturalismo, era um ser passivo, vítima das circunstâncias.
P. 94 – Rousseau foi o
primeiro a usar o conceito de “alienação” política como resultado do governo.
Só a vontade geral não se aliena.
P. 98 – A burocracia é um
elemento essencial da alienação do homem.
P. 100 – A alienação tem
papel decisivo na arte do século XX como em Kafka e Beckett.
P. 102 – Apesar do niilismo
aparecer como um traço característico de Nietzsche, essa já era uma
característica anterior do escritor do mundo burguês decadente como Flaubert.
P. 103 – Para Fischer, o
niilismo é útil às classes dominantes em épocas de fermentação revolucionária,
pois canaliza parte dessa rebeldia para um discurso desesperançoso e passivo.
P. 104 – A desumanização é
outro traço da arte burguesa crepuscular.
P. 105 – O homem é visto não
só como um objeto entre outros, mas como o objeto mais impotente de todos.
P. 108 – A fragmentação é
outra característica importante, impactando a estrutura ortodoxa da arte,
transformando-a também em fragmento, a exemplo da poesia de Rimbaud.
P. 110 – Outra
característica é a mistificação, resposta a complexidade da vida
industrializada.
P. 117 – A questão da
desumanização e dessocialização da arte são potencializada pelo aparecimento
das técnicas de reprodução mecânica – fotografia e gravação – que produzem
entretenimento.
P. 118 – O hermetismo da
arte erudita abre cada vez mais espaço para o lixo do entretenimento.
P. 122 – O realismo em arte
é um conceito elástico. Às vezes é visto como o reconhecimento de uma realidade
objetiva. Às vezes, é visto apenas como um método de trabalho.
P. 122 – O reconhecimento da
realidade não deve ser vista como realidade meramente exterior ao homem, mas
sim recriada por ele.
P. 123 – Com o conceito de
realismo como atitude de reconhecimento da realidade tanto exterior quanto
interior ao homem (“a arte une realidade à imaginação”) quase toda arte se
torna realista. Assim, Fischer considera mais útil confinar o conceito de
realismo a um método de trabalho artístico. Este busca trabalhar a burguesia
como um conceito aberto e não um conceito fechado e hierarquizado.
CAPÍTULO
4 – CONTEÚDO E FORMA
P. 148 – Toda classe
dominante tenta, para proteger seu status quo, dissociar este status quo de um
mero interesse de classe, tentando mostrar que, na verdade, defendem valores
imutáveis e coletivos.
P. 148 – Por isso, a
burguesia, ao invés de defender o capitalismo, defende a democracia, escondendo
a luta de classes.
P. 149 – Na defesa do status
quo sob ataque, a classe dominante fixa sua luta em torno da forma e não do
conteúdo sob ataque. Dai o surgimento, no campo das artes, do “Formalismo”.
P. 150 – A escolha do tema
da obra de arte revela a atitude do artista. Porém, o mesmo tema pode ser
tratado de diversas formas.
P. 151 – O conteúdo da obra
de arte não é apenas “o que é” apresentado, mas também “como” é apresentado.
P. 151 – A classe dominante
sempre pensa que o seu modo de ver o mundo é objetivo, correspondendo à
verdadeira ordem das coisas.
P. 152 – O tema do trabalho
na arte surgirá. Passa da objetividade da classe dominante ao panorama crítico
dos plebeus.
P. 153 – Nas artes da
Antiguidade Clássica, o trabalho não era considerado um tema digno de atenção.
P. 153 – Na Idade Média e na
Renascença, o trabalho aparecerá nas artes.
P. 154 – Na arte barroca, o
retorno à natureza e o tema do pastor alegre em servir seus patrões serviu para
esconder a tensão social existente.
P. 154 – Na Holanda, país
dominado por uma burguesia cônscia do seu poder, a arte retratava o trabalho,
não como idealização, mas como realidade. O trabalhador, mais do que serviu,
era visto e retratado como ser produtivo.
P. 155 – Se no holandês
Brueghel, o camponês era realista, na pintura de Millet, ele era o símbolo de
uma luta contra a escravidão moderna.
P. 158 – Se Van Gogh, a
exemplo de Millet, também pintava o trabalhador como um ato de denúncia, Diego
Rivera foi além, pintando também o opressor e, finalmente, o trabalhador
liberto.
P. 160 – Uma obra reflete o
seu tempo e lugar. (Fagner – Mas, se o
tempo e lugar mudam, muda também o que a obra de arte reflete?)
P. 161 – Descobrimos o
significado de uma obra de arte, mas também lhe damos um significado. A obra de
arte sempre requer interação.
P. 162 – O objetivo da arte
não pode ser reproduzir a natureza, pois o real sempre será superior em
realidade que a mais perfeita cópia.
P. 164 – Novos conteúdos
podem usar velhas formas para se expressar.
P. 170 – “O ritmo, o barulho
e o tempo das grandes cidades estimula novos modos de ver e ouvir. Um camponês
enxerga uma paisagem de maneira diversa que um homem da cidade”.
P. 174 – O conteúdo, ou
seja, o elemento social é o fator decisivo na formação do estilo na arte.
P. 189 – As formas artísticas
são, em geral, conservadoras.
P. 192 – Em um poema, cada
palavra possui um lugar apropriado e é esse lugar que faz a estrutura e a forma
do poema.
P. 194 – O campo invade a
cidade, com os camponeses expulsos indo morar nas favelas das cidades. Ai
misturam-se a cultura erundita e a cultura popular.
P. 195 – Goethe foi a melhor
expressão dessa poesia rústica, popular e cheia de misticismo que resultou do
encontro da arte erundita autocrática com a arte popular camponesa nas cidades
do início da Revolução Industrial.
P. 205 – A música é a mais
abstrata e a mais formal das artes.
P. 205 – A linha entre o
conteúdo e a forma na música é tão apagada que torna a música arredia a
qualquer análise sociológica.
P. 206 – O autor discorda de
que a influência do meio não interfira na obra musical e não possa ser objeto
de análise sociológica.
P. 208 – Para Schopenhauer,
a música expressa o sentimento em si, não vinculado a um construto
espaço-temporal unificado. Já para Hegel, esse espaço-tempo interfere no
sentimento expresso na música, opinião com a qual o autor concorda.
P. 212 – A função social da
música primitiva era mais a de provocar a mudança no estado dos homens do que
refletir sobre um estado prévio deles.
P. 213 – A música tem o
poder de produzir emoções coletivas, de igualar emocionalmente as pessoas. De
todas as artes, a música é a que tem a maior capacidade de nublar a
inteligência e criar a obediência cega.
P. 219 – O compositor serve
tanto a uma função social quanto a uma necessidade individual do artista.
P. 220 – A forma de uma obra
de arte é mais que um mero veículo para o conteúdo. Ela é a solução para o
problema do domínio das formas e será tanto melhor quanto mais elegante for
essa solução. Assim o elemento estético assume também a condição de um elemento
ético (Fagner: A bela forma é a também é
melhor escolha.)
Parabéns pelo excelente resumo. Daruiz Castellani
ResponderExcluir