terça-feira, 26 de agosto de 2014

Síntese - A Necessidade da Arte, de Ernst Fischer

COMPILAÇÃO - RESUMO
FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

INTRODUÇÃO – Antônio Cândido
P. 08 – À medida que a vida humana fragmenta-se pela complexidade das tarefas e interesses, mais consolida-se a função da arte, que é refundir o homem consigo mesmo.
P. 09 – Com as crises do capitalismo, a arte tem como principal questão criar uma ponte entre o povo e o artista.
P. 10 – Na atualidade, a angústia é um privilégio dos que dispõem de ócio.

CAPÍTULO 1 – A FUNÇÃO DA ARTE
P. 11 – Mondrian entendia que a arte se tornaria dispensável à medida que o homem encontra-se seu equilíbrio. Segundo Fischer, com isso é impossível, a arte nunca desaparecerá.
P. 12 – A necessidade de se sentir um homem total, uma plenitude impedida pelas limitações humanas, faz o homem não se satisfazer com a sua própria existência.
P. 13 – A arte é o meio indispensável para esta união do indivíduo com o todo.
P. 14 – o artista deve transformar a experiência em memória e a memória em expressão.
P. 14 – A paixão que consome o diletante serve ao verdadeiro artista.
P. 15 – Bertold Brecht afirma que o efeito da arte para a classe dominante é esconder a luta de classes pela afirmação de uma universalidade da obra de arte. Para Brecht, o que a arte deve é justamente enfatizar a luta de classes e incita-la.   
P. 17 – Toda arte é, ao mesmo tempo, produto do seu tempo e produtora de um momento atemporal da humanidade.
P. 19 – Em sua origem, a arte foi magia. Ciência, religião e arte se uniram na aurora dos tempos.
P. 19 – A arte jamais é mera descrição clínica do real.
P. 20 – Mesmo a arte militante não pode perder o seu caráter “mágico”, pois senão deixa de ser arte.
P. 20 – A arte é tão necessária pelo seu potencial de mudar o mundo ao incitar a ação reflexiva quanto pelo seu potencial de mudar o homem ao incitar a imaginação emocional.

CAPÍTULO 2 – AS ORIGENS DA ARTE
P. 21 – A arte é uma forma de trabalho e é esse que caracteriza o animal humano. (Fagner - A ideia do homo faber anteceder o homo sapiens). 
P. 27 – A experiência da necessidade gera a resposta do instrumento ocasional (uma vara usada para pegar uma fruta). Porém, é com a criatividade que se gera o instrumento padronizado (vara como extensão do braço).
P. 30 – Foi a partir da complexificação do trabalho que os sinais rudimentares e escassos do homem foram se desenvolvendo em direção a uma linguagem sofisticada.
P. 41 – Dupla natureza do homem: 1) o homem pertence à natureza; 2) o homem pertence a uma supra-natureza que ele criou.
P. 42 – O primeiro homem a fazer um instrumento foi o primeiro artista.
P. 45 – A função da arte nos seres primordiais foi a de conferir poder, uma vez que a arte molda a realidade para além da realidade, favorecendo aqueles que dominam a arte, direta ou indiretamente. (Fagner – Isso pode explicar alguns momentos de “mecenato” e aproximação de artistas e os poderoso, numa linha próxima a anteriormente exposta por Brecht).
P. 47 – A arte é essencialmente coletiva. Ainda que possa ser uma expressão individual, essa expressão só se torna arte a partir da intersubjetividade entre artista e plateia. (Fagner – Para mim, essa “condição intersubjetiva” da arte é a base do seu entendimento. Por ela, um “artista” que nunca expusesse suas obras não pode ser assim chamado. Concordo plenamente).
P. 50 – Numa sociedade dividida em classes, as classes recrutam a arte para seus propósitos.
P. 51 – O feiticeiro, na sociedade primitiva, era artista e representante do coletivo junto aos deuses. Com a evolução da sociedade, o vínculo entre o feiticeiro e o artista se desfaz, mas não o vínculo entre o artista e a sociedade. E nessa intermediação, a individualidade do artista submete-se à sua função de intermediador.
P. 52 – O preço da diferenciação da habilidade e da diferenciação das classes, ao lado da complexidade humana de modo geral, levou à alienação do homem tanto do homem quanto de si mesmo.
P. 55 – A ascensão dos mercadores e comerciantes no mundo feudal levou também à ascensão do individualismo também nas artes.
P. 56 – Apesar da nova individualidade na arte, ainda havia o traço da coletividade na relevância da expressão artística.
P. 57 – A sociedade precisa do artista e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social. (Fagner – E este tem o dever de atender a esse pedido?)
P 57 – Usualmente o artista reconhece uma dupla função: 1) aquela imposta ela sociedade; 2) aquela imposta por sua consciência. Quando há uma incompatibilidade frequente entre as duas, é um sinal de um crescente antagonismo no interior da sociedade.
P. 58 – Em um mundo em decadência, a arte, para ser verdadeira, deve expressar essa decadência. Mas deve, em atendimento à sua função social, mostrar que o mundo precisa ser mudado. E ajudar a muda-lo.

CAPÍTULO 3 – A ARTE E O CAPITALISMO
P. 59 – Com a consolidação do capitalismo, tudo se tornar mercadoria. Isso ocorre também com a arte, tornando o artista um produtor de mercadorias como outro qualquer.
P. 60 – Enquanto a sociedade pré-capitalista tendia à extravagância, gerando o mecenato artístico, a sociedade capitalista impõe a lógica do lucro à arte.
P. 61 – Ao mesmo tempo em que o capitalismo foi hostil à arte (impondo-lhe a lógica do lucro em substituição à liberdade do mecenato), por outro lado, libertou o artista da dependência do mecenas, possibilitado acessar novas formas de subsistência pela arte.
P. 62 – Ao longo do processo de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna (Renascimento, Revolução Francesa), o artista ainda podia exprimir suas ideias. Porém, a partir de 1848 e da consolidação do capitalismo, os artistas entram no mundo capitalista da produção de mercadorias artísticas.
P. 63 – O Romantismo foi um movimento de protesto contra o mundo burguês. Era a expressão artística das dores do parto da sociedade capitalista.
P. 64 – o Romantismo defendia que nenhum tema era comum demais para ser excluído da arte.
P. 65 – O Romantismo dava destaque ao “eu”, porém um “eu” que oscilava entre o rebelde e o derrotado.
P. 67 – Características do Romantismo: sensação de desconforto do artista perante o mundo; certa preocupação com o povo (que tinha um caráter mitificado); e celebração do caráter único do individuo.                      
P. 67 – Apesar de sua revolta contra a lógica capitalista, o artista romântico foi o primeiro a produzir arte como mercadoria.
P. 70 – O Romantismo Alemão foi o mais radical, pronunciando-se contra qualquer progresso (associando este ao capitalismo) e enaltecendo o passado.
P. 71 – A sexualidade e o conceito de dionisíaco/apolíneo do Romantismo antecederam Freud e Nietzsche, respectivamente.
P. 74 – O conceito de “folklore” (cultura popular) foi desenvolvido pelo Romantismo.
P. 75 – A arte se originou de uma necessidade coletiva, porém é o individuo que produz arte.
P. 80 – A “arte pela arte” foi um movimento conexo com o Romantismo, tendo como representante Charles Baudelaire.
P. 80 – A “Arte pelo Arte” é uma reação a arte como mercadoria.
P. 82 – Para Fischer, mesmo a “Arte pela Arte” foi apenas uma tentativa ilusória de libertação.
P. 83 – O Impressionismo foi também uma revolta contra a arte oficial.
P. 86 – O termo Impressionismo decorre de uma pintura de Claude Monet exposta em 1874.
P. 89 – O Naturalismo, cujos representantes são Zola e Flaubert, buscava uma arte ainda mais radical do que aquela produzida pelo Realismo.
P. 89 – Apesar de querer aparentar imparcialidade, o Naturalismo também é uma reação contra o mundo burguês.
P. 90 – O homem, para o Naturalismo, era um ser passivo, vítima das circunstâncias.
P. 94 – Rousseau foi o primeiro a usar o conceito de “alienação” política como resultado do governo. Só a vontade geral não se aliena.
P. 98 – A burocracia é um elemento essencial da alienação do homem.
P. 100 – A alienação tem papel decisivo na arte do século XX como em Kafka e Beckett.
P. 102 – Apesar do niilismo aparecer como um traço característico de Nietzsche, essa já era uma característica anterior do escritor do mundo burguês decadente como Flaubert.
P. 103 – Para Fischer, o niilismo é útil às classes dominantes em épocas de fermentação revolucionária, pois canaliza parte dessa rebeldia para um discurso desesperançoso e passivo.
P. 104 – A desumanização é outro traço da arte burguesa crepuscular.
P. 105 – O homem é visto não só como um objeto entre outros, mas como o objeto mais impotente de todos.
P. 108 – A fragmentação é outra característica importante, impactando a estrutura ortodoxa da arte, transformando-a também em fragmento, a exemplo da poesia de Rimbaud.
P. 110 – Outra característica é a mistificação, resposta a complexidade da vida industrializada.
P. 117 – A questão da desumanização e dessocialização da arte são potencializada pelo aparecimento das técnicas de reprodução mecânica – fotografia e gravação – que produzem entretenimento.
P. 118 – O hermetismo da arte erudita abre cada vez mais espaço para o lixo do entretenimento.
P. 122 – O realismo em arte é um conceito elástico. Às vezes é visto como o reconhecimento de uma realidade objetiva. Às vezes, é visto apenas como um método de trabalho.
P. 122 – O reconhecimento da realidade não deve ser vista como realidade meramente exterior ao homem, mas sim recriada por ele.
P. 123 – Com o conceito de realismo como atitude de reconhecimento da realidade tanto exterior quanto interior ao homem (“a arte une realidade à imaginação”) quase toda arte se torna realista. Assim, Fischer considera mais útil confinar o conceito de realismo a um método de trabalho artístico. Este busca trabalhar a burguesia como um conceito aberto e não um conceito fechado e hierarquizado.

CAPÍTULO 4 – CONTEÚDO E FORMA
P. 148 – Toda classe dominante tenta, para proteger seu status quo, dissociar este status quo de um mero interesse de classe, tentando mostrar que, na verdade, defendem valores imutáveis e coletivos.
P. 148 – Por isso, a burguesia, ao invés de defender o capitalismo, defende a democracia, escondendo a luta de classes.
P. 149 – Na defesa do status quo sob ataque, a classe dominante fixa sua luta em torno da forma e não do conteúdo sob ataque. Dai o surgimento, no campo das artes, do “Formalismo”.
P. 150 – A escolha do tema da obra de arte revela a atitude do artista. Porém, o mesmo tema pode ser tratado de diversas formas.
P. 151 – O conteúdo da obra de arte não é apenas “o que é” apresentado, mas também “como” é apresentado.
P. 151 – A classe dominante sempre pensa que o seu modo de ver o mundo é objetivo, correspondendo à verdadeira ordem das coisas.
P. 152 – O tema do trabalho na arte surgirá. Passa da objetividade da classe dominante ao panorama crítico dos plebeus.        
P. 153 – Nas artes da Antiguidade Clássica, o trabalho não era considerado um tema digno de atenção.
P. 153 – Na Idade Média e na Renascença, o trabalho aparecerá nas artes.
P. 154 – Na arte barroca, o retorno à natureza e o tema do pastor alegre em servir seus patrões serviu para esconder a tensão social existente.
P. 154 – Na Holanda, país dominado por uma burguesia cônscia do seu poder, a arte retratava o trabalho, não como idealização, mas como realidade. O trabalhador, mais do que serviu, era visto e retratado como ser produtivo.
P. 155 – Se no holandês Brueghel, o camponês era realista, na pintura de Millet, ele era o símbolo de uma luta contra a escravidão moderna.
P. 158 – Se Van Gogh, a exemplo de Millet, também pintava o trabalhador como um ato de denúncia, Diego Rivera foi além, pintando também o opressor e, finalmente, o trabalhador liberto.
P. 160 – Uma obra reflete o seu tempo e lugar. (Fagner – Mas, se o tempo e lugar mudam, muda também o que a obra de arte reflete?)
P. 161 – Descobrimos o significado de uma obra de arte, mas também lhe damos um significado. A obra de arte sempre requer interação.
P. 162 – O objetivo da arte não pode ser reproduzir a natureza, pois o real sempre será superior em realidade que a mais perfeita cópia.
P. 164 – Novos conteúdos podem usar velhas formas para se expressar.
P. 170 – “O ritmo, o barulho e o tempo das grandes cidades estimula novos modos de ver e ouvir. Um camponês enxerga uma paisagem de maneira diversa que um homem da cidade”.
P. 174 – O conteúdo, ou seja, o elemento social é o fator decisivo na formação do estilo na arte.
P. 189 – As formas artísticas são, em geral, conservadoras.
P. 192 – Em um poema, cada palavra possui um lugar apropriado e é esse lugar que faz a estrutura e a forma do poema.
P. 194 – O campo invade a cidade, com os camponeses expulsos indo morar nas favelas das cidades. Ai misturam-se a cultura erundita e a cultura popular.
P. 195 – Goethe foi a melhor expressão dessa poesia rústica, popular e cheia de misticismo que resultou do encontro da arte erundita autocrática com a arte popular camponesa nas cidades do início da Revolução Industrial.
P. 205 – A música é a mais abstrata e a mais formal das artes.
P. 205 – A linha entre o conteúdo e a forma na música é tão apagada que torna a música arredia a qualquer análise sociológica.
P. 206 – O autor discorda de que a influência do meio não interfira na obra musical e não possa ser objeto de análise sociológica.
P. 208 – Para Schopenhauer, a música expressa o sentimento em si, não vinculado a um construto espaço-temporal unificado. Já para Hegel, esse espaço-tempo interfere no sentimento expresso na música, opinião com a qual o autor concorda.
P. 212 – A função social da música primitiva era mais a de provocar a mudança no estado dos homens do que refletir sobre um estado prévio deles.
P. 213 – A música tem o poder de produzir emoções coletivas, de igualar emocionalmente as pessoas. De todas as artes, a música é a que tem a maior capacidade de nublar a inteligência e criar a obediência cega.
P. 219 – O compositor serve tanto a uma função social quanto a uma necessidade individual do artista.
P. 220 – A forma de uma obra de arte é mais que um mero veículo para o conteúdo. Ela é a solução para o problema do domínio das formas e será tanto melhor quanto mais elegante for essa solução. Assim o elemento estético assume também a condição de um elemento ético (Fagner: A bela forma é a também é melhor escolha.)          

         

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